O Rio de Janeiro terá, muito em breve, uma bolsa de valores para compra e venda de créditos de carbono e ativos sustentáveis, como energia, clima e florestas. Assim, os dias de protagonismo da B3, atualmente a única bolsa de valores do Brasil, estão contados.

Um protocolo de intenções foi assinado na última terça-feira, dia 8 de março, em Nova Iorque, pelo governador Cláudio Castro, com a Nasdaq e a Global Environmental Asset Plataform (GEAP). Esse foi o primeiro passo para implantação da plataforma no Brasil.

Segundo o governo fluminense, o acordo garantirá ao Rio o protagonismo na economia verde. A Nasdaq é o mercado de ações automatizado norte-americano onde estão listadas mais de 2.800 ações de diferentes empresas, em maioria de pequena e média capitalização.

A parceria estabelecida prevê o intercâmbio de informações entre o governo do estado, a Nasdaq e a Geap para a implementação de políticas públicas para certificar, emitir e negociar créditos de carbono, como, por exemplo, a entrega de créditos ambientais a contribuintes que quitarem seus débitos do Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA).

A previsão é de que em cerca de 90 dias sejam criados projeto-piloto e grupo de trabalho para discutir as medidas propostas. Findo o período de avaliação, será examinada a instalada uma subsidiária brasileira da Nasdaq no Rio de Janeiro. A Bolsa de Ativos Ambientais deverá funcionar já no segundo semestre deste ano.

CO2 - potencial econômico

O governador Cláudio Castro disse que a equipe de governo vem trabalhando há 8 meses neste acordo. A Nasdaq fornecerá a tecnologia e o estado do Rio de Janeiro, os ativos ambientais.

A expectativa é que o potencial econômico ambiental do Rio alcance um estoque de gás carbônico (CO2) de 73 milhões de toneladas, representando R$ 25 bilhões. "Cada tonelada desse ativo ambiental pode custar, em média, US$ 5. O segmento está ganhando força em todo o mundo e é visto como uma das alternativas de retomada da economia após a crise causada pela pandemia da covid-19", afirmou Castro.

Segundo maior mercado de ações em capitalização de mercado do mundo, depois da Bolsa de Nova York, a Nasdaq é pioneira no tema da sustentabilidade. Em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), criou criou o Sustainable Stock Exchanges (SSE), programa que disponibiliza uma plataforma global para que as bolsas estimulem o investimento sustentável com a colaboração de investidores e empresas.

Em 2018, foi lançada a primeira bolsa digital regulamentada do mundo para tokens (ferramenta digital de segurança para validação e autenticação de transações financeiras) com base em ativos, que conta com a operação da Nasdaq Technologies.

O vice-presidente associado da Nasdaq Technologies, Carlos Patiño, afirmou que a empresa tem interesse em fazer parte desse tipo de iniciativa. "Será um desafio participar desse projeto criativo. Temos muito o que fazer, mas estamos ansiosos em iniciar esse trabalho em conjunto com o estado do Rio de Janeiro", disse.

Mercado de carbono

Os créditos de carbono são vendidos por países que reduziram as emissões para outras nações que não atingiram suas metas de diminuição de gases causadores do efeito estufa (GEEs). Os recursos financeiros obtidos são aplicados em projetos de emissões de gases de efeito estufa, como reflorestamento e outras ações.

O novo mercado vai resultar na geração de empregos e atração de empresas nacionais e internacionais, além de tornar o Rio de Janeiro líder na economia de baixo carbono, sinalizou o governador.

O secretário de Estado de Fazenda, Nelson Rocha, informou que a meta é trazer também os ativos ambientais da iniciativa privada para serem negociados por meio da plataforma da Nasdaq que, a princípio, vai operar no exterior. "Vamos criar ambiente propício para que essa expansão aconteça nos próximos anos. Queremos fazer do Rio um hub (base) de investimentos de ativos ambientais."

De acordo o governo fluminense, o estado do Rio de Janeiro possuiu 31% de sua área coberta por florestas naturais, correspondendo a 1,3 milhão de hectares. Até 2050, a expectativa é aumentar a área florestal de Mata Atlântica no estado em 10%.

Com investimento inicial de R$ 410 milhões, o projeto Florestas do Amanhã foi criado com objetivo de reflorestar mais de 5 mil hectares com espécies nativas. A medida assegura a manutenção das encostas e dos recursos hídricos, além de promover o desenvolvimento sustentável.

A estimativa é que o programa, na sua primeira fase de implantação, gere mais de 5 mil empregos.

O secretário de Ambiente e Sustentabilidade, Thiago Pampolha, informou que o governo quer ser referência nacional no mercado de carbono. "Desde julho do ano passado, estamos trabalhando para identificar as ações necessárias para o estado conquistar o título de ‘carbono neutro’. O objetivo é fazer com que as emissões líquidas de gases que causam o efeito estufa sejam totalmente neutralizadas até o ano de 2045".

RJ já teve uma bolsa; relembre

Localizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) foi uma das primeiras bolsas a entrar em operação no Brasil, ainda no período colonial. Ela foi inaugurada em julho de 1820, 3 anos após o início das operações da bolsa de Salvador, na Bahia. Sua sede oficial foi inaugurada em 1845, na Rua Direita.

A partir de 2000, porém, algumas mudanças se deram: com a evolução do mercado acionário, foram feitos acordos de integração e o que restava de negociação em ações foi transferida para a Bolsa de Valores de São Paulo. Assim, a bolsa do Rio passou a negociar apenas títulos públicos.

Em 2002, novas mudanças: a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) adquiriu os títulos patrimoniais da BVRJ, passando a deter os direitos de administração e operacionalização do sistema de negociação de Títulos Públicos, o Sisbex. Assim, as operações da Bolsa do Rio foram encerradas.

Notícia foi comemorada

Para o ex-presidente da BVRJ, Carlos Alberto Reis (1992 a 1994 e 1998 a 2001), a associação com a Nasdaq "só pode ser boa". "É uma notícia muito positiva". Embora nunca tenha operado com ativos ambientais, Carlos Reis ressaltou que é uma boa notícia o Rio de Janeiro voltar a ter uma bolsa.

Ainda mais se a futura instituição vier a ter uma sede física no centro da cidade, atualmente abandonado. Ele torce para que a sede seja na Praça 15, onde a BVRJ funcionou até 2002, ou no Porto do Rio.

A opinião foi compartilhada por Ricardo Nogueira, diretor do Sindicato das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários do Rio de Janeiro (Sindicor RJ). Nogueira recordou que o assunto vem sendo discutido há alguns anos no país. "Com o estado tomando à frente, é muito bom e também com a Nasdaq, que tem tecnologia e experiência".

O diretor do Sindicor RJ reforçou ainda: "Ter uma bolsa de ativos ambientais sediada no Rio é muito bom, tanto econômica como institucionalmente para o Rio de Janeiro, em termos de imagem".

Com informações, Agência Brasil