Essa quarta-feira, 15 de setembro, será um dia que entrará para a história. Iniciará na noite de hoje, a primeira missão espacial totalmente civil para orbitar a Terra. A decolagem da capsula Crew Dragon desenvolvida pela empresa SpaceX - que tem como CEO o empresário Elon Musk - acontece às 21 horas (horário de Brasília).

Chamada de Inspiration4, a missão está sendo considerada desde já uma das mais importantes por uma série de razões. Primeiro pelas portas que se abrirão em relação ao turismo espacial, segundo pelo caráter beneficente e filatrópico e pela mensagem que a ela leva para o espaço. Vamos entender um pouco melhor.

Voo orbital

A expectativa é de que a missão dure três dias, ao total, e a bordo da espaçonave estarão quatro tripulantes: um piloto e três civis (saiba sobre esses três mais abaixo). O piloto será Jared Isaacman, de 38 anos. Ele é fundador e CEO da empresa Shift4 Payments, além de "um piloto aventureiro e talentoso", segundo a SpaceX.

A decolagem da Crew Dragon ocorrerá no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, conduzida pelo Falcon 9, foguete reutilizável projetado e fabricado pela SpaceX para o "transporte confiável e seguro de pessoas e cargas úteis para a órbita da Terra e além".

Uma das principais características dessa missão é que ela será de voo orbital, ou seja, ao redor da Terra. A espaçonave fará seu trajeto a cerca de 27 mil quilômetros por hora (km/h), uma velocidade que possibilitará uma volta ao redor do planeta a cada 90 minutos. A expectativa é de que o ápice da aventura seja a uma altitude superior a 550 km.

A decolagem será transmitida pela internet. Para assisti-la, clique aqui. A SpaceX informa que o horário de decolagem dependerá de fatores climáticos, o que pode atrasar tanto o lançamento quanto o pouso da espaçonave.

Velocidade muito maior

E uma informação mais técnica, e muito importante a respeito dessa missão é que, contrário do voo suborbital, que faz uma subida curva até uma certa altura para então retornar à Terra, o orbital requer uma velocidade bem superior, a ponto de, a exemplo de satélites artificiais - ou naturais, como a Lua -, atingir uma posição que possibilita à nave circular em volta do planeta.

Esperança, generosidade e prosperidade

Outro aspecto torna a viagem ainda mais interessante: os três membros, que ao lado do comandante completam a tripulação, representam, cada um, um dos três pilares da missão, que pretende arrecadar fundos para o Hospital St. Jude Children’s Research, instituição que desenvolve pesquisas e promove tratamentos para doenças infantis.

A "esperança" é representada por Hayley Arceneaux. Ela superou um câncer ósseo que teve durante a infância e, atualmente, trabalha como assistente no St Jude. Com 29 anos, é a integrante mais jovem da missão e a primeira pessoa com prótese a ir ao espaço.

A "generosidade", outro pilar da missão, é representada pelo ex-veterano da Força Aérea norte-americana Chris Sembroski, de 42 anos. Sua escolha ocorreu após ter feito doações relevantes para a campanha destinada ao St Jude.

E a "prosperidade" é representada pela professora de geologia Sian Proctor, de 51 anos. Após ter perdido, por pouco, a chance de ser uma astronauta da Nasa, a agência espacial norte-americana, ela terá agora a chance de ser a quarta mulher afro-americana a ir ao espaço.

Então, por que ela é importante?

Acho que já deu pra ter uma boa noção do porque essa missão será tão importante, não é mesmo? Mas não para por aí. Ainda podese destacar um pouco mais sobre o turismo espacial. O fato é que empresas privadas e grandes nações estão de olho na indústria espacial e o sonho, que até recentemente parecia ser tão futurista, está aqui já, se tornando uma realidade.

A SpaceX quer provar que, um dia, viagens espaciais podem ser simples como pegar um avião comercial, para qualquer pessoa. A cápsula usada nesta quarta será a Crew Dragon "Resilience", a mesma que levou os astronautas da Crew-1 para a Estação Espacial e retornou em abril — mais um ponto positivo para a tecnologia da empresa, reutilizável e mais barata.

Missões anteriores já enviaram bilionários em vôos suborbitais, alguns turistas no ônibus espacial ou até visitantes para a ISS — mas sempre junto com experientes astronautas norte-americanos ou russos. Esta é a primeira unicamente com amadores.

Além disso, como dito mais acima, a missão pretende arrecadar fundos para o Hospital St. Jude Children’s Research. Isaacman espera arrecadar US$ 200 milhões e ele próprio doará metade desse valor. A outra metade poderá ser alcançada por meio de leilão.

Sim, porque a cápsula carregará itens curiosos consigo, que depois serão vendidos em um leilão beneficente, como uma versão inédita da música "Time in disguise", do King of Leons, entre outros.

Missão já tem série no Netflix

Outra novidade ligada à missão é que além da transmissão ao vivo que vai acontecer na noite dessa quarta-feira, dia 15, ela também já conta com uma minissérie no Netflix que está sendo atualizada quase que em tempo real.

Ao total serão cinco episódios e quatro deles, onde a missão e os tripulantes são apresentados, já podem ser assistidos. O último episódio tem previsão de ser liberado no dia 30 de setembro e possivelmente já vai mostrar o que aconteceu durante a missão propriamente dita, com imagens capturadas no espaço.

Veja o trailer da minissérie:

Vídeo incorporado do YouTube

Quero ir também! Quanto custa?

Com a missão prestes a ser lançada, ainda não se sabe exatamente quando a população em geral terá a possibilidade de pagar para ir também, mas já é possível ter uma ideia dos valores, que, aliás, por enquanto, não são nada "populares".

No caso dos voos espaciais da SpaceX, como é o caso do Inspiration4, os custos foram de US$ 55 milhões por pessoa, que nesse caso, foram desembolsados pelo piloto Jared Isaacman, que é um dos patrocinadores da missão e que ajudou a escolher as pessoas que iriam com ele para o espaço nessa missão de hoje.

Outra opção são os voos da empresa Virgin Galactic, de Richard Branson. Diferentemente dos voos orbitais, como é o caso da que será feita pela missão Ispiration4, os da Virgin são para cima e para baixo e mais curtas. A espaçonave percorre cerca de 80 quilômetros acima da Terra e para isso, o passageiro precisa desembolsar pelo menos US$ 250.000, além de US$ 1.000 para participar da lista de espera.

A terceira opção são os voos da Blue Origin, empresa do homem mais rico do mundo e fundador da Amazon, Jeff Bezos. As futuras passagens ainda não tem um preço definido mas informações divulgadas em junho, apontavam que um anônimo conseguiu comprar um lugar para a viagem inaugural da companhia, ocorrida no dia 20 de junho, por US$ 29.680.000. No entanto, esse anônimo teria desisitido de fazer a viagem. No lugar dele, Bezos colocou o estudante de 18 anos, Oliver Daemen, que foi o mais jovem a ir ao espaço.