No último sábado, 4 de setembro, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, notificou a suspensão temporária das exportações de carne bovina do Brasil para a China. Isso se deu em função da confirmação de dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina Atípica (EEB), nos estados do Mato Grosso e Minas Gerais, a doença conhecida como "vaca louca".

Os dois casos foram confirmados em frigoríficos de Nova Canaã do Norte (MT) e de Belo Horizonte (MG), após a constatação de irregularidades na última quinta-feira, dia 2, durante inspeções realizadas. Essa suspensão tem como base o protocolo sanitário firmado entre o MAPA e a Administração Geral de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena da China.

A principal preocupação é o fato de que a doença, dependendo da variante, além de ser altamente contagiosa entre os animais, pode ser prejudicial ao organismo humano. Em surtos anteriores da doença (como o ocorrido na década de 1990 no Reino Unido) chegaram a ser registrados dezenas de casos de morte humana por causa dela.

Por outro lado, as suspensões geram tensão ao Brasil porque a China é a maior parceira comercial do Brasil nesse setor e em 2020 foi a maior compradora de carne brasileira. Para alguns especialistas, porem, as exportações devem ser retomadas em breve, principalmente por causa da variante da doença identificada (saiba mais abaixo).

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB)

Ela ficou conhecida como a doença da vaca louca e não é por acaso. Entre os principais sintômas que surgem nos animais afetados estão o comportamento irritadiço e agressivo, além de dificuldades motoras. Isso acontece por essa é uma enfermidade degenerativa que afeta o sistema nervoso central dos bovinos.

De acordo com uma cartilha divulgada pelo MAPA, essas encefalopatias são causadas pelo acúmulo de uma proteína anormal, que se origina a partir de uma alteração de uma proteína normal do hospedeiro. Depois que a doença se instala, ela é invariavelmente fatal, porém, ela possui um longo período de incubação, que dura, em média 5 anos, período no qual a doença muitas veze não se manifesta.

Por isso a doença possui um diagnóstico difícil, já que, muitas vezes ela só é percebida quando os sintomas começam a aparecer. Também não existe um tratamento específico para ela. Vale lembrar, porém, que nos casos de animais criados para o abate, há uma ampla política de testagem que busca prevenir a contaminação de humanos.

Isso é importante porque a versão humana da doença mais comum hoje em dia é conhecida como Nova Variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD) e também é letal. Ela está ligada ao consumo de carne contaminada. A doença ataca o cérebro progressivamente, mas pode ficar dormente por décadas.

A cartilha do governo informa ainda que a doença pode se manifestar de duas formas: a variante clássica e a atípica. A clássica ocorre em bovinos após a ingestão de ração contaminada com príons, enquanto a atípica pode aparecer espontaneamente em todas as populações de gado.

Rebanho brasileiro não corre risco

Ambos os casos identificados no Brasil na semana passada pertencem à variante atípica, que é considerada "natural e esporádica" e por isso, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) afirmou na última segunda-feira, dia 6, que eles não representam riscos para a produção bovina do país.

O MAPA reforçou ainda que "Brasil mantém sua classificação como país de risco insignificante para a doença, não justificando qualquer impacto no comércio de animais e seus produtos e subprodutos”, complementou o órgão.

Como ficam as ações?

Mas em meio a esse cenário, como ficaram as ações das empresas que atuam diretamente no ramo de frigoríficos e produção de alimentos, exportadoras de carne brasileira? Vamos ver.

Vale destacar antes, porém, que as mais afetadas, nesse caso, foram as companhias Minerva Foods e Marfrig, que exportam mais desse tipo de carne para a China. Outras companhias como a BRF, por exemplo, atua com foco em carnes de frango e suínos, que são exportados para a China, mas que não foram afetados pela suspensão.

Já a JBS tem a maior parte de sua atuação com carne bovina instalada nos Estados Unidos, e por isso, também não chega a ser afetada pela suspensão. No Brasil, suas unidades trabalham mais com frangos e porcos também.

Então veja abaixo a situação das ações BEEF3 e MRGF3.

Minerva (BEEF)

No fim da semana passada, após a confirmação dos dois casos, as ações da companhia chegaram a registrar uma forte queda de 6,52%, passando de R$ 8,29, no dia 2, para R$ 7,74 no fim do dia de sexta-feira, dia 3.

Já nessa segunda-feira, dia 6, porém, as ações da companhia começaram a subir novamente e na tarde dessa quarta-feira, dia 8, já acumulava um crescimento de mais de 7% em suas cotações. Por volta das 14 horas, cada um dos papéis custava cerca de R$ 8,33.

Em comunicado divulgado à imprensa, a companhia informou que, realiza exportações para a China pelas unidades de Barretos (SP), Palmeiras de Goiás (GO) e Rolim de Moura (RO), mas que também possui uma susidiária fora do Brasil atendendo a demanda chinesa. Trata-se da Athena Foods que conta com quatro plantas de abate: três no Uruguai e uma na Argentina.

Dessa forma a empresa disse que não chega a ter suas relações com a China totalmente afetadas. Ela também destacou que desde 2015 a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) exclui a ocorrência de casos de EEB atípica para efeitos do reconhecimento do status oficial de risco do país, e que por isso "a Minerva acredita que, tal qual em períodos anteriores, a suspensão das exportações brasileiras é temporária e deverá ser retomada em um curto espaço de tempo".

Marfrig (MRFG3)

Situação muito semelhante aconteceu com a Marfrig (MRFG3), cujas ações também sofreram uma queda no fim da semana passada mas voltaram a se recuperar já nessa segunda-feira, 6 de setembro.

No caso dela, as ações saíram de R$ 21,74 na maior alta da quinta-feira, dia 2, e chegaram a custar R$ 21,01 naquele mesmo dia. Na sexta-feira, dia 3, encerrou as negociações em R$ 21,21 e desde então, nessa quarta-feira, dia 8, já acumulava uma alta de 4,20%, sendo negociadas a R$ 22,10 cada uma de suas ações por volta das 14h20.

A Marfrig também divulgou nota ao mercado e os acionistas informando que possui, na América do Sul, treze plantas habilitadas para China, sendo que o Brasil possui sete habilitações, seguido do Uruguai com quatro e Argentina com duas. Dessa forma a empresa também não chega a ser afetada em sua totalidade.

Além disso, a empresa destacou que "no acumulado dos primeiros seis meses do ano, as exportações brasileiras da Marfrig para o mercado chinês representaram 5,6% da receita líquida consolidada", e que ela "acredita que a situação está dentro dos parâmetros regulares envolvendo questões sanitárias e espera que as exportações sejam retomadas em breve".

Carne deve ficar mais barata?

Depende. Principalmente do tempo que vão durar as suspensões. Mas possivelmente o impacto no preço da carne não será muito grande, não. Na semana passada, após o primeiro impacto causado pela suspensão das exportações, até chegou a registrar-se uma queda, mas já nessa semana houve uma recuperação leve.

Antes do acontecido, o arroba da carne bovina (o que corresponde a cerca de 15kg) estava cusstando em torno de R$ 320 e R$ 330 e logo após a suspensão, o preço chegou a cair para R$ 300. Nessa semana, porém, o arroba já voltou para a faixa dos R$ 310.

Além disso, como dito acima, alguns frigoríficos acabam não sendo totalmente impactados porque eles possuem unidades em outros locais do mundo e podem transferir o envio de carne para a China, ainda que temporariamente. Obvio que o país deixa de ganhar, principalmente porque diminui a coleta de impostos, mas se a suspensão for rápida, não chegará a ser muito grande a diferença.

Então, só nos resta esperar para ver quais serão os próximos capítulos dessa série.