Uma notícia bombástica relacionada à rede de lojas Americanas veio à tona noite dessa quarta-feira, 11 de janeiro: foi identificada uma inconsistência contábil na casa dos R$ 20 bilhões.
O comunicado foi feito pelo próprio presidente, Sergio Rial, e pelo diretor de relações com investidores da empresa, André Covre.
Na oportunidade, os dois executivos comunicaram também a decisão de deixar seus cargos. Eles haviam sido empossados em 2 de janeiro e estavam há menos de dez dias exercendo suas funções.
Entre as inconsistências encontradas, segundo o comunicado divulgado pelo então CEO, estavam operações de financiamento de compras que não estavam "adequadamente refletidas" nas contas de fornecedores. A descoberta desse fato se deu durante o levantamento das demonstrações financeiras do terceiro trimestre do ano passado (3T22).
Diante desse acontecido, muitos investidores temem que esse possa ser o fim da companhia e temem pelo preço das ações das Americasas. Abaixo, veja o que já se sabe sobre esse rombo fiscal e entenda o que pode acontecer daqui pra frente.
Rombo fiscal de R$ 20 bi: o que se sabe?
Segundo a Americanas, ainda não é possível determinar todos os impactos dessas inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial.
A empresa ainda afirmou que essas estimativas estão sujeitas a confirmações e ajustes, a depender da conclusão da apuração dos fatos e dos pareceres de auditores independentes.
Além disso, a companhia de varejo afirmou acreditar que "o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial".
Em documento interno assinado por Rial, consta a informação de que:
"A posição de caixa é sólida em mais de R$ 8 bilhões e seguiremos pagando nossos fornecedores no prazo estipulado, [assim como] todas as nossas obrigações", afirmou.
O ex-CEO disse ainda, porém, que a fase atual da empresa é árida e penosa por conta do ajuste e impacto do mercado, afirmando que o compromisso dos funcionários será crucial no momento.
As inconsistências foram detectadas em lançamentos contábeis redutores da conta de fornecedores em anos anteriores, incluindo 2022, e a cifra de R$ 20 bilhões refere-se à data-base de 30 de setembro passado.
Quem vai assumir o cargo de CEO?
No comunicado oficial divulgado ao mercado, a Americanas afirmou que a decisão de Rial de sair da empresa ocorreu por conta da "consequente alteração de prioridades da administração", mas que ele continuará como assessor dos acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.
E para ficar em seu lugar, o conselho de administração nomeou o diretor de recursos humanos da companhia, João Guerra, para assumir interinamente os cargos de presidente e diretor de relações com investidores.
Segundo a Americanas, Guerra é um "executivo com ampla trajetória" na empresa e que não estava "envolvido anteriormente na gestão contábil ou financeira".
"O conselho de administração decidiu, ainda, criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos", disse em nota.
Ações AMER3 devem despencar
Independente do que diga ou do que faça a empresa nesse momento crucia, as ações da companhia deverão cair nessa quinta-feira, dia 12, e possivelmente ainda nos próximos dias também. Essa é uma análise unânime dos especialistas.
O Itaú BBA, por exemplo, destacou esperar que a ação sofra significativamente durante as negociações de quinta, especialmente porque o desempenho positivo recente foi impulsionado pelas pelas expectativas do mercado em relação a administração de Sergio Rial.
Em função disso, os analistas do banco colocaram a recomendação das ações AMER em "revisão" até que se possa entender melhor a situação da empresa.
A XP também colocou a recomendação dos ativos em revisão, dada a falta de visibilidade sobre o que de fato aconteceu e os impactos efetivos a serem observados nas demonstrações financeiras da companhia.
Aalém disso, a XP avalia que o anúncio pode implicar em três efeitos negativos:
- maior alavancagem, dado que o endividamento da Americanas pode aumentar dependendo dos ajustes em seu balanço patrimonial;
- Maior custo de dívida, por conta da maior percepção de risco de crédito e liquidez;
- Deterioração do capital de giro, dado que a companhia poderá ter problemas em manter os dias de pagamento a fornecedores, por conta de seu ciclo de caixa pior.
É o fim das Americanas?
É bastante cedo para afirmar qualquer coisa ainda e um balanço mais completo ainda deverá ser divulgado, mas a companhia certamente vai sentir de alguma forma, especialmente pela saída de Rial do cargo de CEO, já que havia grandes expectativas em sua gestão.
Ex-presidente do Santander Brasil, esperava-se que Rial trouxessse novas ideias para a varejista e que ele contribuísse especialmente para o avanço da Ame, a plataforma financeira da Americanas. Ele seria uma espécie de "salvador" da companhia. E por isso o choque desse comunicado é ainda mais grave.
Em complemento a isso, a ida de Covre para a Americanas também era muito bem vista pelos investidores, com expectativa de que ele fortalecesse a comunicação e transparência com o mercado.
A saída, de ambos pode ser interpretada, inclusive, como "mais riscos à frente", por muitos investidores, especialmente diante das poucas informações divulgadas sobre o ocorrido.
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