A JBS (JBSS3) acaba de entrar no mercado de proteína cultivada - que consiste na produção de carne em laboratório, a partir de células animais. O anuncio foi feito pela companhia na noite dessa quarta-feira, 17 de novembro. Isso foi poossível graças a um investimento de US$ 100 milhões.

Com esse valor, a JBS assinou um acordo para aquisição do controle da sociedade espanhola BioTech Foods e o investimento inclui a construção de uma nova unidade fabril na Espanha para dar escala à produção, que deverá custar cerca de US$ 41 milhões. Essa operação foi feita por meio de sua controlada JBS Global Luxembourg.

Além disso, na noite dessa quarta-feira a companhia também anunciou que está implantando o primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em Biotecnologia de Alimentos e de Proteína Cultivada no Brasil. Saiba mais sobre todas essas operações abaixo.

Aquisição da BioTech

A BioTech Foods é uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada. Fundada em 2017, a companhia opera uma planta-piloto na cidade espanhola de San Sebastián e tem a expectativa de alcançar a produção comercial em meados de 2024 quando a proteína cultivada chegará aos consumidores na forma de diversos alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros, com a mesma qualidade, segurança, sabor e textura provenientes da proteína tradicional.

A tecnologia tem potencial não apenas para a produção de proteína bovina, mas também para a de frangos, suínos e pescados. Pelos termos da operação, a JBS se tornará a acionista majoritária da BioTech Foods. Porém, a consumação desta transação ainda está sujeita à confirmação da autoridade de investimento estrangeiro na Espanha, dentre outras condições usuais a este tipo de operação.

Centro de Pesquisa

Com o investimento no Centro de Pesquisa em Proteína Cultivada no Brasil, previsto para ser inaugurado em 2022, a JBS pretende desenvolver novas técnicas que acelerem os ganhos de escala e reduzam os custos de produção da proteína cultivada, antecipando sua comercialização no mercado.

No total, a JBS destinará US$ 100 milhões às duas iniciativas, que estão em linha com a estratégia da Companhia de ampliar a sua plataforma de novas formas de produção de proteína, como reflexo das novas tendências de consumo e do crescimento populacional esperado nas próximas décadas.

O mercado de proteína cultivada

A carne cultivada é uma fonte de proteína que continua sendo carne de origem animal, porém, é feita de uma maneira indolor, segundo informações divulgadas pelo site Vegan Business. O processo de produção se dá por meio da colheita de amostras de células por biópsia, que depois são isoladas em um ambiente aquoso com substâncias para se proliferarem. No processo seguinte as células são colocadas em um fermentador ou biorreator e voilà! Habemus carne!

Esse processo permite que os consumidores - especialmente aqueles que se preocupam com a causa animal - sigam comendo carne sem ter que se adaptar ou achar produtos semelhantes no mercado. A Vegan Business também destaca que esse mercado confere a possibilidade de adoção do consumo de carne em massa por parte da população sem interferências no meio ambiente.

Algumas informações importantes sobre essa questão estão no relatório da RethinkX que apontou: "Prevemos que o número de vacas nos EUA cairá 50% até 2030 […] Em 2035, o número de vacas terá diminuído 75%". Também relatou: "A carne à base de células pode ter uma vantagem distinta da perspectiva do consumidor porque é carne animal. Conceitualmente, os consumidores podem se sentir mais confortáveis com isso".

Um estudo da Kearney também citou: "A participação de mercado da carne convencional diminuirá em favor da carne cultivada e de seus substitutos. A biotecnologia também afetará a indústria de alimentos no que diz respeito ao leite, ovos, gelatina e peixes". Além disso, segundo a McKinsey o mercado de carne cultivada pode atingir US$ 25 bilhões até 2030.

Vale destacar que os produtos a base de proteína cultivada são diferentes daqueles proteínas plant-based, como a carne cultivada dos players Beyond Meat e Impossible Foodsque, são veganos.

Entre outras empresas conhecidas no Brasil e que já possuem iniciativas nesse sentido está a Nestlé, que está trabalhando com uma startup de carne cultivada israelense, a Future Meat Technologies. Essa empresa possui uma fábrica piloto que pode produzir cerca de 500 quilos de carne cultivada por dia (ou 5 mil hambúrgueres), segundo informações tambem da Vegan Business.

Outra empresa é a BRF, que em março anunciou uma parceria com outra startup israelense, a Aleph Farms para a produção da carne cultivada a partir de proteína animal. Segundo a companhia, o lançamento de seus produtos nesse mercado deverá acontecer em meados de 2024, após aprovação de órgão reguladores, testes de eficiência e segurança alimentar, entre outros.