O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) determinou nesta terça-feira, 19 de outubro, por meio de um ofício-circular, que os frigoríficos brasileiros habilitados a exportar carne bovina para a China devem suspender quaisquer novas produções para aquele país.

Essa medida foi tomada na data em que a paralisação das exportações brasileiras de carne à China completou 45 dias, sem qualquer expectativa de retomada. Os embarques para o país asiatico foram interrompidos no início de setembro quando foram confirmados dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina Atípica (EEB), nos estados do Mato Grosso e Minas Gerais, a doença conhecida como "vaca louca".

Segundo informações divulgadas pelo jornal O Globo, a decisão de suspender novas produções se deu em função da demora das autoridades sanitárias chinesas em autorizar a retomada das compras da carne bovina brasileira. A China é hoje a maior compradora de carne do Brasil, o que causa preocupação ao setor. Porém, ainda de acordo com O Globo, a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, estaria planejando uma viagem a Pequim para destravar o bloqueio.

O que diz o ofício-circular

O ofício-circular enviado pelo governo foi endereçado aos chefes dos Serviços de Inspeção de Produtos de Origem Animal, à Coordenação-Geral de Inspeção e à Coordenação-Geral de Controle e Avaliação do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal.

No texto, o governo também autoriza estabelecimentos processadores de carne bovina habilitados a vender aos chineses a estocarem em contêineres refrigerados a proteína que produziram antes da data da suspensão. A medida será válida por 60 dias.

Confira um trecho abaixo:

"Autorizar, temporariamente, pelo período de 60 dias, que os estabelecimentos fabricantes e processadores de carne bovina habilitados a exportar para a China realizem a estocagem de produtos bovinos congelados, fabricados anteriormente à suspensão da certificação sanitária internacional de produtos para a China em 4/9/2021 com destino a esse mercado, em contêineres dotados de equipamentos geradores de frio, nos pátios internos de estabelecimentos habilitados à exportação para China."

Pelo ofício, esses estabelecimentos deverão dispor de estrutura adequada que permita o funcionamento contínuo dos equipamentos de frio dos contêineres e realizar o monitoramento frequente e diário de seu funcionamento e temperatura interna, como parte de seus autocontroles.

Relatórios contemplando o quantitativo de contêineres, sua localização e as informações de controle de temperatura deverão ser apresentados ao SIF, sempre que solicitado.

Como ficam as ações dos frigoríficos?

Mas em meio a esse cenário, como ficaram as ações das empresas que atuam diretamente no ramo de frigoríficos e produção de alimentos, exportadoras de carne brasileira? Vamos ver.

Vale destacar antes, porém, que as mais afetadas, nesse caso, foram as companhias Minerva Foods e Marfrig, que exportam mais desse tipo de carne para a China. Outras companhias como a BRF, por exemplo, atua com foco em carnes de frango e suínos, que são exportados para a China, mas que não foram afetados pela suspensão.

Já a JBS tem a maior parte de sua atuação com carne bovina instalada nos Estados Unidos, e por isso, também não chega a ser afetada pela suspensão. No Brasil, suas unidades trabalham mais com frangos e porcos também.

Então veja abaixo a situação das ações BEEF3 e MRGF3.

Minerva (BEEF3)

No ínicio de setembro, após a confirmação dos dois casos, as ações da companhia chegaram a registrar uma forte queda de 6,52%, passando de R$ 8,29, no dia 2, para R$ 7,74 no fim do pregão do dia 3. De lá para cá, porém, a companhia registrou uma alta em seu preço.

Do dia 6 de setembro até às 10 horas da manhã dessa quarta-feira, 20 de outubro, foram 21,18% de alta. Atualmente, cada uma das ações está custando R$ 10,07. Cenário que pode mudar ao longo do dia de hoje após a suspensão determinada pelo governo.

Porém, em comunicado divulgado à imprensa ainda em setembro, a companhia informou que, realiza exportações para a China pelas unidades de Barretos (SP), Palmeiras de Goiás (GO) e Rolim de Moura (RO), mas que também possui uma susidiária fora do Brasil atendendo a demanda chinesa. Trata-se da Athena Foods que conta com quatro plantas de abate: três no Uruguai e uma na Argentina.

Dessa forma a empresa disse que não chega a ter suas relações com a China totalmente afetadas. Ela também destacou que desde 2015 a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) exclui a ocorrência de casos de EEB atípica para efeitos do reconhecimento do status oficial de risco do país, e que por isso "a Minerva acredita que, tal qual em períodos anteriores, a suspensão das exportações brasileiras é temporária e deverá ser retomada em um curto espaço de tempo".

Marfrig (MRFG3)

Situação muito semelhante aconteceu com a Marfrig (MRFG3), cujas ações também sofreram uma queda no inicio de setembro, chegando a custar R$ 21,01 no dia 02/09, mas que não só se recuperaram nas semanas seguintes como registraram uma alta de 27,83% desde o dia 6 de setembro até a manhã dessa quarta-feira, dia 20 de outubro. Agora, cada ação MRFG3 custa R$ 26,27.

A Marfrig também divulgou nota ao mercado e os acionistas em setembro informando que possui, na América do Sul, treze plantas habilitadas para China, sendo que o Brasil possui sete habilitações, seguido do Uruguai com quatro e Argentina com duas. Dessa forma a empresa também não chega a ser afetada em sua totalidade.

Além disso, a empresa destacou que "no acumulado dos primeiros seis meses do ano, as exportações brasileiras da Marfrig para o mercado chinês representaram 5,6% da receita líquida consolidada", e que ela "acredita que a situação está dentro dos parâmetros regulares envolvendo questões sanitárias e espera que as exportações sejam retomadas em breve".