A Americanas (AMER3) anunciou nesta quinta-feira, 19 de janeiro, que ajuizou, em conjunto com suas subsidiárias ST Importações Ltda, JSM Global e B2W Digital, o pedido de recuperação judicial de todo o Grupo perante a 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.

A recuperação judicial foi resultado imediato dos últimos acontecimentos na varejista em apenas 8 dias. Em 11 de janeiro, a Americanas (AMER3) identificou o que chamou de "inconsistências contábeis" de R$ 20 bilhões em seus balanços.

Desde a descoberta e o anúncio, o mercado começou a responder, obviamente, negativamente. Além de ser um montante enorme, maior do que o patrimônio líquido de outras empresas da bolsa de valores, ainda não se sabe como esse problema surgiu na Americanas, o que causa ainda mais tensão.

Listada na Bolsa de Valores B3 com as ações AMER3, a Americanas já registra queda de quase 90% desde o anúncio do rombo bilionário. Segundo os registros, o papel saiu da cotação exata de R$ 12,00 para R$ 1,27 às 14h59min de hoje.

Créditos: Reprodução/Google Finanças
Créditos: Reprodução/Google Finanças

Americanas inicia pedido de recuperação judicial em 2023

No documento divulgado ao mercado, a Americanas lista os eventos que a levaram a entrar com o pedido de recuperação judicial, desde a descoberta de um misterioso rombo de R$ 20 bilhões.

Contudo, o que mais chama a atenção é que a Americanas anunciou que seu caixa foi drasticamente reduzido e, além disso, que a empresa possui um saldo de R$ 43 bilhões a pagar neste momento.

Dias antes, a varejista havia entrado na justiça para solicitar proteção para qualquer possibilidade de antecipação de dívidas por parte dos credores, que, logicamente, estão preocupados com a situação e poderiam solicitar os pagamentos antes do vencimento. A justiça, então, protegeu um saldo de R$ 40 bilhões, mas não é algo definitivo.

Confira abaixo os fatores que a Americanas listou como os causadores do início do pedido de recuperação judicial da empresa:

  • Descoberta de financiamentos de compras da dimensão de R$ 20 bilhões não adequadamente refletidos nas demonstrações financeiras de 30/09/2022;
  • Desafios da Companhia na interface com credores e fornecedores desde a ocorrência de tais fatos;
  • Necessidade de atendimento, de forma adequada e organizada, dos interesses de seus credores, acionistas e stakeholders;
  • Posição de caixa disponível à Companhia que se reduziu sobremaneira; e, ainda;
  • Necessidade de preservação da continuidade da oferta de serviços de qualidade a seus clientes, dentro dos compromissos assumidos pela Companhia e da manutenção da continuidade de seu negócio e sua função social.

Diante de tudo isso, a Americanas informa que "os membros do Conselho de Administração da Companhia deliberaram, por unanimidade, aprovar, em caráter de urgência, a apresentação do pedido de recuperação judicial da Companhia, perante a 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, nos autos da Tutela de Urgência Cautelar em Caráter Antecedente Preparatória de Processo Recuperacional ajuizada em 12 de janeiro de 2023".

Americanas tem dívida de R$ 43 bilhões

O total dos créditos listados nos documentos protocolados com o pedido de recuperação judicial da Americanas soma, nesta data, aproximadamente R$ 43 bilhões.

"A administração da Companhia pretende tomar as providências e adotar os atos necessários à efetivação do pedido de recuperação, em todas as jurisdições nas quais tais medidas sejam necessárias", consta no comunicado.

Americanas manterá lojas abertas

A Americanas informou que continuará com as portas das lojas abertas, mesmo com a recuperação judicial.

"A Companhia continuará envidando esforços para prestar um serviço amplo à população, com um compromisso social forte de levar produtos acessíveis aos seus 53 milhões de clientes", explica a varejista.

Para tanto, segundo o comunicado, o grupo de acionistas de referência da empresa informou ao Presidente do Conselho de Administração que pretendem manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, - o site americanas.com - , da Ame e suas demais coligadas.

"A Companhia manterá seu esforço na busca por uma solução com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos", finaliza a empresa.

Recuperação judicial não é falência

Com o andamento dos últimos eventos, muito se especulou sobre o futuro da Americanas. Há quem traga, inclusive, o debate sobre uma possível falência da empresa.

Então é importante destacar que a recuperação judicial não é a falência de empresa.

Por sua vez, a Recuperação Judicial é o nome dado para um processo que possibilita à empresa a implantação de um plano de recuperação em meio a uma grande crise. Nesse cenário, a empresa consegue evitar maiores repercussões, como demissões em massa e a própria falência.

Geralmente, o processo de recuperação judicial envolve renegociação de dívidas junto aos credores, bem como levantamento de recursos para os pagamentos, como por meio de venda de ativos.

Algo assim foi visto na Oi (OIBR3) que entrou em recuperação judicial em 2016 e, após venda de ativos e renegociação de dívidas, finalizou o processo em dezembro de 2022. A empresa não faliu, mas passou por grandes perdas financeiras e operacionais.

BTG Pactual conseguiu bloquear R$ 1,2 bilhão da Americanas

Também nesta quinta-feira, 19 de janeiro, a Americanas anunciou que na véspera o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro tomou uma decisão favorável ao banco BTG Pactual, para quem a Americanas deve dinheiro.

Diretamente, a decisão do Órgão Especial determina o bloqueio do valor de cerca de R$ 1,2 bilhão em conta do Banco BTG até a apreciação de Mandado de Segurança.

O BTG Pactual iniciou ação contra a proteção que a Americanas havia conseguido na justiça para se proteger de pagamentos antecipados de dívidas.

Neste comunicado, a Americanas alega ainda que a posição de caixa disponível à Companhia para suas atividades alcançou um valor de R$ 800 milhões, sendo que parcela significativa deste valor estava injustificadamente indisponível para movimentação.

O caixa de R$ 800 milhões é extremamente inferior ao balanço da Americanas no início de todo esse processo.

"A companhia vai recorrer da decisão, que fere seu esforço na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos", disse a Americanas em comunicado.