A pandemia de covid-19 teve diversas consequências para a população brasileira, entre elas, segundo estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado recentemente, está a diminuição da renda em quase metade dos domicílios dos idosos, principal grupo de risco.

Segundo o levantamento, antes da pandemia, 50,5% dos idosos trabalhavam e desses 42,1% não possuía qualquer vínculo empregatício. A partir da pandemia, entretanto, houve uma queda na renda em 47,1% dos domicílios, sendo que 23,6% relataram forte redução e, em muito casos, até mesmo ausência de renda.

Entre aqueles que trabalhavam sem carteira assinada, a queda na renda ocorreu em 79,8% dos lares e a ausência de renda em 55,3%. A diminuição também afetou de forma mais intensa os que tinham renda per capita domiciliar menor que um salário mínimo. Apenas 12% citaram alguém do domicílio que recebeu algum benefício do governo relacionado à pandemia.

Segundo a principal autora do estudo, Dalia Elena Romero, a crise econômica, o desemprego e a perda de renda já vinham ocorrendo antes do início da pandemia no ano passado. "A pandemia veio somar os problemas para a saúde e o bem-estar da população idosa", afirmou.

A pesquisadora destaca que a perda de renda do idoso afeta muito toda a família. Ela defende a ampliação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), do auxílio emergencial e de programas de renda mínima, além de políticas que aumentem a escolaridade e a inclusão digital, para proteger a população idosa e seus dependentes da vulnerabilidade social.

Isolamento social

Outro ponto da pesquisa que chamou a atenção foi em relação às consequências do isolamento social. Segundo os dados apresentados, 87,8% dos idosos aderiram ao isolamento social total ou de modo intenso. Essa é uma das principais explicações para a quantidade de lares afetados pela diminuição de renda.

Em relação às condições de saúde física, mais de 58% dos idosos indicaram ter pelo menos uma doença crônica não transmissível, como diabetes, hipertensão, doença respiratória, do coração e câncer. Se considerado o tabagismo, esse índice sobe para 64,1%.

Para a pesquisadora, a deterioração que o Sistema Único de Saúde (SUS) sofreu nos últimos anos, especialmente na atenção básica de saúde da família, causou impacto significativo na população idosa. Segundo Dalia, o fortalecimento da atenção básica pouparia muitos recursos em internações hospitalares.

O estudo revelou ainda que a sensação de tristeza ou depressão recorrente foi maior em domicílios com menor renda (32,3%) e na população feminina (35,1%), em comparação com a masculina. O sentimento frequente de solidão pelo distanciamento dos amigos e familiares foi citado por metade dos idosos, sendo maior entre as mulheres (57,8%).

Fonte dos dados

A pesquisa que apresentou esses dados foi realizada entre abril e maio de 2020 por meio de um questionário eletrônico. Mais de 9 mil pessoas participaram, todas elas com idade igual ou superior a 60 anos. O estudo foi feito pela Fiocruz, com base em dados da Pesquisa de Comportamentos (ConVid) realizada pela fundação em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Com informações da Agência Brasil