Já faz algum tempo que o preço da conta de luz vem aumentando no país e pesando no orçamento das famílias. E com a privatização da Eletrobras, o serviço pode ficar ainda mais caro, de acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos).

O órgão sindical de pesquisa diz que, para que sejam atendidos os consumidores residenciais, a energia de 20 hidrelétricas que pertencem a Eletrobrás é gerada a preço de custo atualmente. E isso deve mudar agora, com a desestatização.

Essa é a expectativa pois a condição de monopólio e estatal, com participação de 28% na geração de energia e 40% das linhas de transmissão, faz com que a administração da empresa acabe priorizando os interesses da coletividade. Já na lógica de corporações privadas, o lucro deve ser levado em consideração.

A energia elétrica vai ficar mais cara com a privatização da Eletrobras?

Entenda melhor o que é a Eletrobras e se haverá aumento na conta de energia com a privatização da estatal.

O que é a Eletrobras?

A Eletrobras é uma sociedade econômica mista e de capital aberto que atualmente está sob o controle acionário do Governo Federal brasileiro e atua como uma holding (empresa que detém a posse majoritária de ações de outras empresas), dividida em geração, transmissão e distribuição, criada em 1962 para coordenar todas as empresas do setor elétrico.

É a maior empresa de geração de energia elétrica brasileira, com capacidade geradora equivalente a cerca de 1/3 do total da capacidade instalada do país. Tem mais de 90% de capacidade instalada de fontes com baixa emissão de gases de efeito estufa. Seus investimentos previstos são de R$ 19,756 bilhões​ entre os anos de 2018 e 2022​.​​ ​​

O que diz o Dieese sobre a privatização da Eletrobras?

De acordo com o estudo do Dieese, com a privatização da Eletrobras, existe um grande risco de perda de controle do Estado sobre a política nuclear brasileira. O levantamento diz ainda que a Eletrobras é a maior empresa do setor na América Latina e que é uma das que mais produz energia limpa no mundo.

Nos últimos quatro anos, o lucro da empresa foi de R$ 37,5 bilhões, com receita operacional líquida de R$ 30 bilhões e geração de caixa anual de R$ 15 bilhões.

Atualmente, a estimativa de patrimônio da Eletrobras é de R$ 400 bilhões. Com a privatização, o governo espera arrecadar R$ 60 bilhões. Conforme o Dieese, os especialistas estimam que, com a privatização da Eletrobras, a conta de luz vai subir de 15% a 25%.

Para onde vai o dinheiro com a venda da estatal?

O ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que parte dos recursos da privatização da Eletrobras pode ser usada para bancar a proposta do governo do presidente Jair Bolsonaro na qual reduz o valor dos combustíveis. Com a privatização, a participação do governo na empresa é reduzida para cerca de 45%.

Deste modo, a empresa se torna uma corporação sem controlador definido, parecido com o modelo que outras empresas do mesmo setor ao redor do mundo seguem.

O governo estima que o cálculo da privatização terá um retorno de R$ 67 bilhões, mas que não é tudo que irá para os cofres públicos. Desde que o anúncio da privatização foi feito, ainda no governo de Michel Temer em 2017, há uma divisão dos recursos. Sendo assim, R$ 25,3 bilhões serão pagos pela Eletrobras privada para o Tesouro neste ano pelas outorgas das usinas hidrelétricas que terão os seus contratos alterados.

A conta de luz vai ficar mais cara com a privatização da Eletrobras?

Há divergências na questão do aumento da conta de energia elétrica com a futura privatização da Eletrobras. Para o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes, é possível que no primeiro momento, haja um aumento nas contas de luz após a privatização da Eletrobras. Porém, a médio e longo prazos isso não acontecerá devido ao aumento de concorrência e surgimento de novas tecnologias.

Já Roberto D’Araújo, diretor do Instituto Ilumina, afirma que as tarifas de energia irão continuar subindo nos próximos anos se a privatização da Eletrobras acontecer. O especialista diz que nos últimos anos, o país aprovou uma expansão do parque termelétrico, no qual tem custos de geração mais altos, e também a adoção de empréstimos que vão ser pagos pelos consumidores. Em 2020, por exemplo, teve a criação da "conta covid", no valor R$ 14,8 bilhões, para dar liquidez financeira ao setor com a redução no consumo de energia durante a pandemia de covid-19. Ele também diz que o Brasil é o único país no mundo inteiro que paga juros pelo consumo do quilowatt-hora. Nenhum país decente pega um custo que vem da energia elétrica e transfere para outras coisas, pois é dessa forma que se começam a misturar custos e receitas.