A Taurus Armas (TASA4), fabricante de armas de fogo brasileira, divulgou nessa quinta-feira, 6 de maio, seus resultados referentes ao primeiro trismestre de 2021 e em tom de comemoração, o CEO da empresa, Salésio Nuhs, concedeu entrevista exclusiva ao Poupar Dinheiro nessa sexta-feira, 7.

A empresa, que tem sede em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul e que conta com uma fábrica no Brasil e outra nos Estados Unidos, alcançou um resultado muito positivo com um lucro de R$ 68 milhões, revertendo o prejuízo que a companhia teve no mesmo período do ano passado.

"Encerramos mais um trimestre com fortes resultados, atingindo novos recordes operacionais e registando lucro líquido pelo quarto trimestre consecutivo, ou seja, seguimos no padrão de desempenho que se tornou uma rotina agradável e bem fundamentada na Taurus", diz o relatório.

Entrevista com CEO

Em entrevista exclusiva realizada por telefone com Salésio Nuhs, CEO da Taurus, ele comentou um pouco desses resultados e das perspectivas futuras da companhia. Veja abaixo:

Poupar Dinheiro: Esse foi o quarto lucro líquido positivo da empresa depois de um trimestre que apresentou um prejuízo de quase R$ 157 milhões. O que a empresa fez pra mudar esse cenário? Qual o segredo pra essa recuperação tão significativa mesmo em meio à pandemia?

Salésio Nuhs: Eu assumi a gestão da Taurus em 2018 e ela vinha de uma situação bastante crítica em relação a resultados. A dívida da companhia em 2017 não dava nem pra fazer uma relação com o Ebitda porque ele era negativo. Então a partir de 2018 a gente começou a recuperar a companhia num plano muito forte de reestruturação. Primeiro internamente, com relação aos nossos processo de produção, mudando todos os nossos processos de fabricação pra torná-los robustos e garantir estabilidade de produção, qualidade e custos viáveis, então a nossa margem bruta quando nós assumimos era 13%, esse ano a gente fechou com uma margem bruta de 46%. E estamos falando de três anos. Paralelo a isso a gente criou um Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia. A Taurus é uma empresa vocacionada para produtos de uso civil e o mercado americado é o maior do mundo em termos de armas de uso civil. A gente sempre teve uma produção muito marcante nos EUA, então, a gente entendeu que precisávamos ser fortes nessa questão de desenvolvimento de novos produtos. Ele é integrado porque é Brasil-EUA. Eu tenho Engenheiros de Produto nos EUA que identificam a tendência de consumo, e eu tenho aqui no Brasil um grupo de engenheiros bastante grande - e aí a gente têm bastante orgulho de dizer que nós formamos os nossos engenheiros aqui porque não existem Engenheiros de Armamentos - então eu tenho 70 engenheiros formados e tenho 105 engenheiros que se formam nos próximos 2 anos nesse Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia. Esse era um dos problemas que a gente tinha identificado, que era a falta de engenheiros de armamento, e nós resolvemos formando os nossos. A partir disso a companhia ganhou uma habilidade de desenvolvimento de produtos e de processos. Então por um lado, nós conseguimos agregar tecnologia aos produtos para que o consumidor enxergue valor agregado neles e para que se possa buscar melhores margens. Por isso nós saimos de 13% de margem para 46%. Por outro lado, a minha engenharia de processos desenha um processo para esse produto para que ele seja o mais produtivo, para que tenha menos etapas de produção e até menos peças, para que a gente possa ganhar em produtividade. Então essa foi a chave dessa mudança interna da comapanhia desses três anos que estamos aqui.

Poupar Dinheiro: E em relação à parte externa? Foi feito algo?

Salésio Nuhs: Na parte externa nós trocamos e reestruturamos toda a nossa distribuição mundial. Inclusive na nossa fábrica nos EUA, nós trocamos toda a parte de gestão no final de 2019. Mudamos a fábrica que tínhamos há 40 anos na Flórida - nisso a Taurus sempre foi muito corajosa, há 40 anos montamos uma fábrica de armas nos EUA, que é o mercado mais concorrido do mundo - mas essa fábrica já não era mais produtiva e então nós tivemos uma proposta do Governo da Geórgia, através de benefício fiscal e de investimentos na Taurus - eles nos levaram para a Geórgia e nos deram um parque fabril com capacidade para dobrar a produção - num total de US$ 42 milhões. Hoje nós temos uma fábrica lá em plena expansão. Então o segredo do sucesso é mais ou menos isso. Nós mudamos também o CEO americano. Hoje eu tenho um CEO lá que é realmente voltado para o mercado e que deu muito certo na companhia. Toda essa revolução da Taurus é que trouxe esses resultados. E eu costumo dizer que a gente já vem apresentando bons resultados desde 2018, que desde então a Taurus não teve mais prejuízo, porque ela não teve mais um Ebitda negativo. O lucro líquido tem alguns efeitos negativos por conta da variação do dólar. Como a nossa dívida é toda em dólar, quando eu fecho um trimestre com o dólar em desvantagem em relação ao trimestre anterior, eu tenho um efeito de despesa financeira grande por conta da dívida, mas o que eu acho importante analisar na Taurus é a Margem Bruta e a Margem Ebitda e nisso a gente não teve mais resultados negativos.

Poupar Dinheiro: Eu até ia te perguntar a respeito dessa relação com o dólar. Nos últimos dias ele vem sofrendo oscilações e uma queda e também há a perspectiva de aumento da taxa de juros nos EUA. Como vocês veem esse cenário? Ele pode afetar a Taurus de alguma forma?

Salésio Nuhs: A variação do dólar afeta a gente positiva e negativamente. Quanto ela afeta negativamente é em relação à dívida, porque nossa dívida é dolarizada. Então quando o dólar aumenta, a minha dívida aumenta. Mas essa é uma questão apenas gerencial, não afeta a minha geração de caixa. Por outro lado, a minha venda, 85% dela, é dolarizada também, porque o meu principal mercado é os EUA e a gente exporta muito. Apenas 15% da produção é vendida no Brasil. Então eu tenho um equilíbrio entre o meu faturamento e a minha dívida em dólar. Isso, evidentemente varia, mas o ganho da companhia vem muito da operação, porque a Taurus é uma empresa muito fortemente geradora de caixa, uma industria que tem 32% de margem o que é difícil no Brasil.

Poupar Dinheiro: E aqui no Brasil, vivemos um momento de perspectivas de mais liberações e facilitação da posse e do porte de armas. Quais as expectativas da Taurus em relação ao futuro, dentro deste cenário?

Salésio Nuhs: O Brasil é um mercado importante pra gente em termos de prioridade, nós somos uma empresa brasileira e temos orgulho disso, nós somos uma multinacional brasileira que está presente em mais de 100 países, nós somos a 4ª marca mais consumida nos EUA, considerando todos os fabricantes de armas americanos, e nós somos a 1ª marca importada pelos americanos. Então a Taurus tem uma exposição muito grande. O mercado brasileiro é importante do ponto de vista de prioridade e de estratégia, porque toda a rede que se alimenta desse segmento de armas e munições, depende da Taurus. Lojistas, armeiros, instrutores de tiros, enfim, depende da Taurus. Então a gente dá total prioridade ao mercado brasileiro em termos de entrega. O mercado americano é o mais importante para a Taurus, mas em termos de prioridade é o segundo mercado. Então da mesma forma que existe uma expectativa grande aqui no Brasil em relação a essas facilidades - e nem digo facilidades, mas de uma ampliação da quantidade de calibre que o consumidor pode ter aqui no Brasil, porque as regras no Brasil ainda são as mais rígidas do mundo pra adquirir uma arma de fogo - o que o presidente atual fez foi abrir esse mercado para diversos calibres. Aliás, isso também era frustrante pra gente, porque a Taurus tem um portifólio completo de produtos. Somos uma fábrica de armas, não de revolver, ou de pistolas. Eu sou o maior fabricante de revolveres do mundo, a primeira marca de pistolas importada pelos EUA, eu tenho armas táticas para as forças armadas e policiais e ainda armas longas e esportivas. E a gente vendia no Brasil três calibres apenas, então era frustrante para a indústria e para o consumidor. Então esse foi um grande benefício que o atual governo trouxe para o segmento no Brasil, mas ainda assim é pequeno. Agora, nos EUA, o mercado também está extremamente comprador. Hoje as lojas nos EUA elas não ficam abertas o dia inteiro porque não têm o que vender. Porque existe um fator político nos EUA. O [Joe] Biden ganhou as eleições e quando os democratas administram os EUA, existe uma instabilidade nessa questão regulatória, porque eles são antiarmas, pressionam o congresso apra criar restrições e quando o americano percebe que pode ter uma restrição, ele sai correndo pra comprar arma. Então hoje eu tenho 2,3 mil pedidos de armas apenas para o mercado americano. O que é uma situação extremamente privilegiada para a Taurus. Nós temos hoje um Brasil com um mercado extremamente aquecido e nos EUA um mercado ultra aquecido. Melhor impossível.

Poupar Dinheiro: No relatório vocês também falam sobre novos projetos em andamento e outros por iniciar. Há a joint venture de carregadores e ela será transferida, em breve, para um novo endereço. Queria que tu comentasse um pouco a respeito do que está por vir.

Salésio Nuhs: Para o futuro nós temos como objetivo o aumento da nossa capacidade de produção. Nós já batemos recordes no primeiro trimestre e só agora em abril nós já superamos esse recorde. Nos três primeiros meses nós produzimos 7,7 mil armas mais ou menos, e em abril foram cerca 9 mil armas por dia. Isso principalmente nos EUA porque nós ainda estamos enchendo a capacidade da fábrica nova lá e aqui no Brasil a gente tem ganhado por conta de ganhos de produtividade, porém em setembro a gente vai inaugurar um condomínio de fornecedores que a gente está construindo aqui, com 12 mil metros quadrados, para trazer para o complexo industrial da Taurus seis forncedores estratégicos, inclusive um relacionado a carregadores que é o novo negócio da companhia, uma join venture para fabricar carregadores das armas, porque esse mercado está extremamente aquecido e aumentou muito o mercado de reposição de carregadores, então foi uma ideia estratégica que veio na época certa. Então nós temos esse projeto do condomínio, o projeto dos carregadores, temos uma aceleração na produção nos EUA e nós temos ainda a nossa fábrica na Índia que, apesar do Covid-19 - e a Índia foi muito atingida pela pandemia - o que atrasou um pouco o nosso projeto de montagem da fábrica lá, vem correndo muito bem. A gente quer começar a produzir lá em setembro. E assim, o projeto da Índia é fantástico porque não é simplesmente montar uma fábrica. Isso faz parte de um projeto do governo da Índia de tranferência de tecnologia para a Índia. Vamos ganhar muito produzindo lá, porque tudo é superlativo, população, número de profissionais, tudo. A gente quer estar na Índia para aproveitar as possíveis licitaçãoes dos militares e policiais do governo da Índia e isso só vai depender da pandemia, pra que a gente possa inaugurar essa operação lá em setembro. Então em relação ao futuro, a gente tem vários projetos, sem considerar os novos produtos, como um especial que a gente vai lançar agora no dia 19 de maio aqui no Brasil e nos EUA simultaneamente, entre outros.

Resultados de TASA4

A empresa apontou que mantendo os cuidados para garantir a saúde dos colaboradores, e apesar das limitações enfrentadas pelos fornecedores, nos primeiros três meses de 2021, a Taurus produziu o maior volume de armas da história da companhia em um trimestre: foram 492 mil.

Só nos EUA, na fábrica localizada no Estado da Georgia, foram 175 mil armas no trimestre, o que representa quase 300% acima do volume registrado no primeiro trimestre de 2020.

Além disso, a companhia garante que ainda tem volume suficiente de matérias primas em estoque para manter a produção sem percalços por três meses e seis meses de pedidos firmes para os fornecedores.

Tudo isso tem relação com um mercado aquecido. A companhia apontou que atualmente tem um back order (pedidos já feitos) de 2,3 milhões de armas.

A Taurus também destaca que as vendas seguiram com boa rentabilidade, totalizando 498 mil unidades vendidas, o que proporcionou a receita de R$ 512,5 milhões.

Contribuiu para isso, segundo o relatório, o fato de que as margens, especialmente nos EUA vêm sendo maiores por conta de novos produtos que estão sendo desenvolvidos e que contam com mais tecnologia e menores custos de matéria prima e uma engenharia que envolve processos mais robustos e eficientes.

O lucro bruto aumentou em 131,8% em relação ao 1T20, atingindo R$ 254,0 milhões, com margem de 46,1%. "A maior rentabilidade está relacionada com os novos produtos, novos processos de produção adotados, ganho de escala e maior produtividade na fábrica do Brasil e aumento da capacidade produtiva nos EUA gerando maior diluição dos custos", diz o documento.

Somado a isso, também há um controle maior sobre as despesas operacionais, que proporcionou um novo recorde de Ebitda e de sua margem: R$ 175,7 milhões, aumento de 269,1% em comparação com o 1T20, com margem de 31,9%, que supera a margem do mesmo trimestre do ano passado em 16,9 p.p..

"E assim chegamos ao 4º trimestre consecutivo de lucro líquido [...] com aumento de produção, de vendas, de geração de caixa e de rentabilidade, e seguimos nesse primeiro trimestre de 2021 com crescimento e resultados robustos, ou seja, continuamos crescendo em relação a uma base de comparação que já tinha sido forte. Estamos, assim, caminhando na contramão da economia, uma vez que o PIB brasileiro apresentou recuo de 4,1% no ano, o pior desempenho anual da série atual, iniciada em 1996. E os efeitos negativos sobre a economia não foram só no Brasil, mas mundiais. Nos EUA, a maior economia do mundo, a contração do PIB foi de 3,5% em 2020, pior desempenho desde 1946, com quase todos os setores, com exceção do governo e do mercado imobiliário, sofrendo declínio da produção", consta ainda no relatório divulgado ao mercado.