Essa terça-feira, 17 de agosto, foi mais um dia difícil para as bolsas de valores em todo mundo, inclusive no Brasil. Ainda num cenário de tensão mundial em função de questões econômicas e geopolíticas, o Ibovespa que havia encerrado a segunda-feira, dia 16, em 119 mil pontos depois de uma queda de 1,66%, fechou o dia de ontem em 117 mil, com mais uma queda de 1,1%.

Esse clima de tensão vem sendo causado, em grande parte, pela tomada de poder do Talibã no Afeganistão. Desde o fim de semana, quando o presidente afegão Ashraf Ghani, deixou o país, entregando-o ao poder do grupo extremista, o mundo mantém seus olhos voltados para o Oriente Médio.

As principais preocupações são relacionadas à autonomia e liberdade das mulheres. Na ditadura anterior imposta pelo grupo político-religioso, as mulheres não tinham praticamente nenhum direito e era sujeitas a uma legislação duríssima, que as impedia de sair nas ruas sem estar completamente cobertas pela burca, trabalhar, estudar, entre outras coisas.

Nessa terça-feira, nas primeira entrevistas concedidas por porta-vozes do Talibã, o grupo declarou que dessa vez será diferente e que as mulheres terão, sim, "alguns direitos", porém, eles não foram específicos e, na verdade, declararam que primeiro o governo deverá se estabelecer e só depois é que as leis serão determinadas. Autoridades em todo o mundo viram suas declarações com ceticismo.

O grupo segue a Sharia, o sistema jurídico do Islã, que segue normas baseadas no Corão, falas e condutas do profeta Maomé e jurisprudência das fatwas, que são pronunciamentos legais (como decretos) de estudiosos do Islã. A tradução de "Sharia" significa "caminho claro para a água" e existem vertentes mais ou menos radicais da Sharia. O Talibã, na ditadura imposta entre 1996 e 2001, seguia as mais radicais.

Economia mundial

Além disso, há aspectos econômicos internacionais que preocuparam também nessa terça-feira, como os dados relacionados às vendas no varejo norte-americano, que caíram bem do que o esperado pelos analistas. No mês de julho, foram 1,1% de redução nas vendas quando a projeção apontava para uma redução de apenas 0,3%.

Por outro lado, a produção industrial nos EUA veio um pouquinho acima do esperado. A expectativa era de um crescimento de 0,5% e foi de 0,9% entre junho e julho. Ainda assim, esses dados não muito positivos dos EUA se somam aos resultados divulgados pela China na segunda-feira, e que também foram preocupantes.

Segundo esses dados, a produção industrial da China teve uma desaceleração bem significativa. Elas cresceram 6,4% no mês, ficando abaixo das expectativas do mercado para julho que eram de, pelo menos, 7,8%. As vendas no varejo chinês ficaram ainda mais abaixo do esperado: em 8,5% de alta, quando a expectativa era de, pelo menos, 11,5%.

Isso também mostrou que a recuperação econômica mundial, no pós-pandemia, não vai tão bem assim, ou que, pelo menos, está perdendo força. Especialistas apontam que em todo o mundo, inclusive na China, as empresas estão enfrentando maiores custos e gargalos de ofertas.

Além disso, a variante Delta da Covid-19, que teve origem na Índia e se espalhou pelo mundo, levou a novas restrições no mês passado e agora em agosto vem trazendo consigo novas ondas de contágio, o que preocupa o mercado internacional a respeito de novos lockdowns e restrições.

Questões nacionais

Além disso, o momento também é de incertezas internas. O último Boletim Focus (relatório divulgado semanalmente pelo Banco Central com as projeções do mercado para os principais indicadores econômicos brasileiros) dessa segunda-feira mostrou que a projeção para o PIB, que vinha crescendo nas últimas semanas, após esse período de apresentação de resultados, se estabilizou e até caiu um pouquinho, passando de 5,30% para 5,28%.

Por falar no Focus, ele também apontou que o mercado já projeta a inflação em mais de 7% até o fim de 2021 e que a Selic, numa tentativa de conter essa inflação, deve ir a 7,50%. Tudo isso preocupa o mercado e os brasileiros, fazendo com que segurem um pouco mais as contas.

Ainda na segunda-feira também foi um destaque o fato de que o Governo Federal propôs o parcelamento dos pagamentos de precatórios, elevando as dúvidas sobre a capacidade da União de honrar suas obrigações e respeitar o teto de gastos.

Ibovespa cai, Dólar estabiliza

Diante disso, o Ibovespa que fechou em 119.180 pontos nessa segunda-feira, 16 de agosto, no menor patamar desde maio de 2021com uma queda de 1,66%, registrou um segundo dia de queda ontem, mais 1,1% a menos, chegando aos 117.903 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 38,052 bilhões. Porém, na mínima do dia, chegou a estar em 116.247 pontos.

Por outro lado, o Dólar que havia fechado em alta, se aproximando dos R$ 5,30, na segunda, na maior cotação desde 26 de maio, teve uma leve queda também, de 0,2%, fechando em R$ 5,27 na compra e na venda. Já o dólar futuro com vencimento em setembro registra alta de 0,49% a R$ 5,295 no after-market.