Depois de uma semana de intensos acontecimentos políticos envolvendo os três poderes e manifestações da população, e consequentemente de quedas no Ibovespa, no fim da tarde de ontem, 9 de setembro, o índice deu sinais de respiro após a divulgação de uma nota oficial por parte do presidente Jair Bolsonaro.

Assim, o Ibovespa que iniciou o dia em 113 mil pontos, na cotação mais baixa desde março de 2021, e chegou a 112 mil pontos no início da tarde, encerrou a quinta-feira em 115 mil pontos. Nessa sexta-feira, porém, o indíce que iniciou o dia em alta, voltou a registrar queda por volta das 15 horas, chegou a operar em 114 mil pontos novamente.

Na nota divulgada ontem, o presidente agradeceu as manifestações em seu apoio, mas destacou que não teve a intenção de agredir outros Poderes e que muitas de suas falas foram resultado do "calor do momento". Bolsonaro falou ainda sobre a importância da democracia, amenizando seu tom. Veja abaixo:

Declaração à Nação

No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.

2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.

3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de "esticar a corda", a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.

4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.

6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.

7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.

8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.

9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.

10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Jair Bolsonaro

Presidente da República federativa do Brasil

Anteriomente, na noite de quarta-feira, dia 8, um áudio do presidente pedindo pelo fim da paralisação já havia circulado. Ele dizia o seguinte:

"Fala para os caminhoneiros aí, que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação e prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres. Então, dá um toque no caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade. Deixa com a gente em Brasília aqui e agora. Mas não é fácil negociar e conversar por aqui com autoridades. Não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui e vamos buscar uma solução para isso, tá ok? E aproveita, em meu nome, dá um abraço em todos os caminhoneiros. Valeu"

Na manhã de ontem, porém, o presidente chegou a se encontrar com líderes da categoria e segundo informações que foram divulgadas depois o presidente não voltou a pedir pelo fim da manifestação, dessa forma, os caminhoneiros disseram que continuariam parados. Depois disso, em sua live semanal, Bolsonaro, confirmou que a manifestação deverá ser mantida até domingo, porque o movimento "é um direito dos caminhoneiros".

Na live ele ainda comemorou a repercussão de sua nota oficial no mercado financeiro. "O que aconteceu de imediato [após a publicação da carta]? Você quer a gasolina mais barata, não quer? Álcool, gás? Isso tudo está indexado ao preço do dólar", comentou, referindo-se à queda no dólar registrada no fim da tarde.

Em live na noite de ontem, Bolsonaro comemorou a repercussão de sua nota oficial no mercado financeiro. Créditos: Reprodução/Facebook/Live Jair Bolsonaro
Em live na noite de ontem, Bolsonaro comemorou a repercussão de sua nota oficial no mercado financeiro. Créditos: Reprodução/Facebook/Live Jair Bolsonaro

Mas a paralisação perdeu força

Ainda assim, em muitos estados do Brasil a paralisação perdeu forças e os caminhoneiros se dispersaram. Muitos líderes chegaram a se manifestar nas redes sociais, mostrando incômodo com a situação criada pelo presidente, alegando que ele mesmo teria chamado a categoria às ruas mas que estaria recuando agora com essa nota divulgada.

Assim, segundo informações divulgadas pelo Ministério da Infraestrutura na parte da manhã, apenas em três estados ainda eram registrados movimentos de caminhoneiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rondônia. Ao longo da semana, chegaram a ser 15 estados com paralisações e mais de 35 pontos bloqueios das estradas.

E na parte da tarde, novas informações davam conta de que não era mais registradas interdições em nenhuma parte do país, ainda que em alguns pontos os caminhonheiros seguissem reunidos.

Encontro com Temer surtiu efeitos

A carta do presidente Bolsonaro foi divulgada após um encontro de mais de 4 horas com o ex-presidente Michel Temer durante o dia de ontem. Segundo assessores de Temer, durante o encontro, Bolsonaro foi aconselhado a mudar seu tom e divulgar a nota oficial.

Temer viveu em seu mandato uma manifestação de caminhoneiros (em 2018) e possui boas relações tanto com Bolsonaro quanto com Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e ele teria se colocado à disposição para intermediar a pacificação entre os Poderes.

Arthur Lira reagiu à nota

Em resposta a essa nota, presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) teceu elogios ao presidente ainda na noite de ontem, dia 9, afirmando que o presidente Bolsonaro serenou os ânimos. "O País é maior do que qualquer instituição ou presidente de Poder. Temos a obrigação de trabalhar em harmonia. Temos problemas, temos o resto da pandemia, o problema do desemprego, dos precatórios, que podem afetar os recursos de investimento. Não é o momento para desarranjos institucionais", afirmou Lira.

Lira também elogiou a participação de Michel Temer para redução da crise política. "Louvamos o presidente Temer, é um ato de grandeza do presidente Temer e do presidente Bolsonaro. Que seja uma oportunidade de recomeço de conversas para estabilização da política na vida do povo brasileiro", disse ele.

Senadores também se manifestaram

Também em resposta à nota, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, postou em seu Twitter na noite de ontem que "respeito entre os Poderes, obediência à Constituição e compromisso árduo no trabalho em favor do desenvolvimento do país". Ele ressaltou que "é disso que o país precisa".

Mas ele não foi o único senador a reagir à publicação. "Quantas horas vai durar o espírito pacífico e respeitador das leis de Bolsonaro? Talvez até a próxima live. Quem acredita nas intenções democráticas de Bolsonaro? Para a situação do Brasil só há uma saída segura: o impeachment do presidente", publicou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Para o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), Bolsonaro "é o barril de pólvora que está implodindo o país". Ele disse ainda que o presidente da República é um "fabricador de crises, viúvo da ditadura, péssimo governante, tiranete desequilibrado. Sua nota de hoje [a carta divulgada nesta quinta-feira] é mais uma vergonha para a República. Impeachment para esse terrorista! Bolsonaro é um típico covarde manipulador. Faz da ameaça um método de governabilidade para conseguir o que quer. E tem funcionado! Avança e recua, afrouxando todos os limites do Estado Democrático de Direito. É só aguardar o próximo ataque: ele virá!".

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também fez críticas à carta de Bolsonaro e à notícia de que o documento teria sido escrito sob orientação do ex-presidente Michel Temer. "Li a cartinha do Temer que o Bolsonaro assinou. Será que agora o Temer passa a governar também? Será que vai redigir cartinha explicando mansões e rachadinhas? Vai vendo, Brasil. Quem votou ‘para mudar tudo isso aí’ faz o quê? Espera cartinha para baixar o preço da gasolina? Desenhando para inocentes apaixonados. Bolsonaro é só mais uma peça no sistema, preocupado em esconder rachadinhas, mansões e incompetência. E o sistema adora presidentes fracos. Facilita demais o acesso a cargos, grana e impunidade. Basta ler a sequência de notinhas ensaiadas."

O senador Rogério Carvalho (PT-SE), por sua vez, disse que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade e não pode ficar impune. "Até o golpista Temer aconselhou o Bolsonaro a recuar da brava autoritária. As instituições precisam permanecer vigilantes aos arroubos antidemocráticos de Bolsonaro, que não irão parar. Os crimes de responsabilidade já cometidos não podem passar impunes!"

Outros senadores, no entanto, elogiaram a mensagem divulgada por Bolsonaro e defenderam o diálogo. Um deles foi o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI), atual ministro da Casa Civil. "A harmonia e o diálogo entre os poderes compõem as bases nas quais se sustenta nosso país. O gesto do presidente Jair Bolsonaro demonstra que estamos unidos no trabalho pelo que mais importa, a recuperação do nosso país e o cuidado com os brasileiros."

O diálogo também foi defendido pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). "Sou um pacificador. Sempre defendi o diálogo, o entendimento e o respeito entre poderes, partidos e pessoas. É disso que o Brasil precisa, sobretudo neste momento de retomada."

Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM) também manifestou-se no Twitter. "O dia 9 de setembro é histórico. Dia em que Bolsonaro fez autocrítica sobre a China. E dia em que ele recuou na tensão com outros Poderes. Se for ato genuíno, é louvável. Se for jogada para liberação dos recursos de precatórios para programas eleitoreiros em 2022, é lastimável. Estaremos alerta!"

Ibovespa deve se recuperar?

Diante desses fatos e do estabelecimento de um prazo para o fim da paralisação dos caminhoneiros, as expectativas para o Ibovespa para essa sexta-feira, eram boas por um lado. O Ibovespa Futuro estava registrando uma alta de 2,3% e o dólar estava caindo para R$ 5,17 na manhã dessa sexta-feira, 10 de setembro.

Por outro lado, nem tudo são flores. A instabilidade política não termina totalmente e os investidores seguirão atentos a novos desdobramentos nos próximos dias. Além disso, também é preciso considerar o cenário econômico que não mudou para melhor ao longo da semana e que segue com dificuldades.

A alta constante dos preços de produtos é um dos problemas, por exemplo. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi divulgada nessa quinta, dia 9, pelo IBGE apontou uma alta de 0,87% em agosto. No ano, o IPCA acumula alta de 5,67% e nos últimos 12 meses, essa alta é de 9,68%.

Por volta das 10h50 o Ibovespa seguia em alta, mas menos acentuada, de cerca de 0,48%, permanecendo da casa dos 115 mil pontos e por volta das 15 horas, uma nova queda foi registrada, com o índice chegando a 114 mil pontos outra vez. Depois disso, o Ibovespa até voltou para a faixa dos 115 mil, mas abaixo da média do dia. Veja a imagem abaixo:

Oscilações do Ibovespa na tarde dessa sexta-feira, 10 de setembro. Créditos: Reprodução/Google
Oscilações do Ibovespa na tarde dessa sexta-feira, 10 de setembro. Créditos: Reprodução/Google

O fato é que as oscilações devem continuar acontecendo, até porque, como é possível ver nas declarações dos senadores, acima, muitos veem com desconfiança esse novo posicionamento de Bolsonaro, acreditando que isso faz parte apenas de uma estratégia. Todos estão de olho nos próximos acontecimentos.

O Poupar Dinheiro irá atualizando essas informações ao longo do dia. Fique ligado.

Com informações Agência Câmara de Notícias e Agência Senado.