Já pensou ir ao supermercado e o preço de um pacote de arroz ser alterado várias vezes enquanto você está escolhendo qual levar? E não para menos, o valor só aumenta a cada troca.. Parece bem estranho, não? Mas saiba que no final da década de 1980 e início de 1990, era assim a situação no Brasil.

Essa época ficou conhecida como o período da hiperinflação, que fez com que muitas pessoas mudassem seu jeito de lidar com o dinheiro até os tempos de hoje, já que esses fatos marcaram suas vidas.

Para ter uma comparação, o ano todo de 2021 a inflação no Brasil ficou em 10,06%, sendo considerado um valor alto, que impacta bastante no bolso do consumidor. Agora imagine que no ano de 1989, a inflação no Brasil chegou a bater 17,82% no ano.

E por que será que chegou nessa situação? Tem como sair? Será que existem chances da hiperinflação voltar nos tempos de hoje? Confira todas as respostas.

O começo da hiperinflação

Para conseguirmos chegar aos valores absurdos da inflação nos anos de 1980 e 1990, é preciso entender quais os fatores que fizeram chegar nesse problema gigantesco. Existem muitas teses para explicar os principais motivos da hiperinflação.

De acordo com um trabalho apresentado no fórum Problemas Econômicos da Década de 1990, essas condições para chegar em uma hiperinflação aconteciam em países assolados por Guerras, como aconteceu na Alemanha entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial.

Porém, no Brasil, os erros administrativos da economia foram tão devastadores quanto uma guerra. Voltando no tempo, lá em 1960 a economia já não andava muito bem. Um exemplo é que, em 1964, a taxa de inflação estava em 90% (quase 9x mais que em 2021).

Na década de 1970, quando houve um curto período de estabilização, as obras do governo fizeram com que os gastos públicos subissem lá nas alturas, então, o endividamento externo subiu junto. Os empréstimos financeiros tinham como base os juros flutuantes, onde variavam conforme as condições da economia.

Então, o valor do petróleo subiu muito em alguns momentos dos anos 70 e com isso gerou um reajuste mundial. Os EUA subiram a taxa de juros, e os investimentos ficaram bem melhores por lá e começaram a ser retirados daqui, fazendo uma fuga de capital do Brasil.

Tentando melhorar as condições de investimentos e ficar mais fácil exportar nossos produtos, a moeda local daquela época desvalorizou em 30%. O que aconteceu foi que, com a desvalorização da moeda local em 30%, nossas dívidas do exterior aumentaram na mesma proporção.

1980, a década perdida

Depois do superendividamento, a economia só regrediu. Em 1981, foi lançado um programa pelo governo para a estabilização da economia, o que não ajudou. As dívidas já eram muito altas, e para não ter calotes, o FMI interrompeu os empréstimos.

Mas como não havia dinheiro para pagar as contas, a decisão foi então, emitir títulos da dívida pública nos quais os investidores podiam comprar, com juros super altos, porque se não, ninguém iria querer fazer investimentos de alto risco.

Então, a dívida interna teve um salto de 50% do PIB, que foi muito pior para os prazos de pagamentos. Pelo fato dos títulos públicos terem juros altos e uma boa rentabilidade, eles passaram do setor privado para o setor público, elevando consequentemente também o índice do desemprego, já que não tinha mais investimentos na indústria. Foi então que gerou a bola de neve da hiperinflação.

Mais planos fracassados

Outros planos que foram fracassados no decorrer da década foram:

  • Plano Cruzado : cortou três zeros do Cruzeiro e congelou os preços. Os estabelecimentos seguiam uma tabela, podendo ter denúncias para a fiscalização caso os preços estivessem acima dela.
  • Plano Verão: as taxas de juros voltaram ainda maiores, o risco de calote da dívida pública cresceu, e todas as ideias fracassaram.
  • Plano Collor: esse também falhou, agravando ainda mais a situação do congelamento das poupanças, onde as pessoas ficaram sem poder mexer em suas economias, aumentando ainda mais a desconfiança da população no governo.

A solução real da hiperinflação

Foi então o Plano Real que conseguiu tirar o Brasil dessa situação, sendo negociada a dívida externa e o crescimento do PIB. Criaram a URV (Unidade Real de Valor), que media a economia e era atrelada ao dólar, virando de fato o Real em 1994.

Outro fator importante para controlar a economia foi a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que começou a obrigar gestores públicos a tomarem medidas com mais responsabilidades.

É possível retornar à hiperinflação?

Não é possível afirmar que nunca poderá acontecer, já que a economia de um país está sempre girando. Hoje em dia existem países que vivem a hiperinflação, como o Sudão (fechou 2021 com 340% de inflação).

Mas uma coisa é certa: não é do dia para a noite que acontece a hiperinflação e, como o Brasil já viveu essa situação, provavelmente seriam usadas medidas cabíveis para não deixar chegar a tal ponto.