O conflito entre a Rússia e a Ucrânia parece distante de todos nós brasileiros, afinal ele acontece do outro lado do planeta. Mas se você acompanha o noticiário econômico, já deve estar prevendo que não vamos sair ilesos desses acontecimentos, não é mesmo? E se você pensa assim, está certo.

Isso porque a invasão russa, iniciada na madrugada de quinta-feira, 24 de fevereiro, não só vai impactar na economia daqui, como isso deve acontecer mais cedo do que podemos imaginar num primeiro momento. Já nos próximos dias.

Enteda melhor abaixo.

Altas dos preços já começou

Com o mundo inteiro preocupado com as consequências dessa invasão, uma das primeiras consequências - que já pode ser vista - é a elevação do preços do produtos, especialmente das commodities. É a velha inflação.

O preço do barril de petróleo, por exemplo, um dos produtos que mais impactava, já antes do conflito, na inflação brasileira, chegou a passar dos US$ 105 nessa quinta-feira, patamar nunca antes registrado.

E como a política de preços da Petrobras segue o mercado internacional, uma coisa é praticamente certa: o preço dos combustíveis deve subir nos próximos dias. A qualquer momento a Petrobras pode anunciar alguma medida nesse sentido.

O resultado disso nós já conhecemos, pois temos acompanhado isso ao longo do último ano: a inflação resultante dos efeitos da pandemia já trouxe elevações nos combústiveis, que levam a elevações nos preços de praticamente todos os outros produtos que circulam no país, desvalorizando a moeda, diminuindo o poder de compra da população e por aí adiante.

Então, como resposta, o Banco Central eleva a taxa de juros, a Selic. E não somos nós do Poupar Dinheiro que estamos prevendo isso. São especialistas.

Ex-presidente BC explica

Na noite dessa quinta-feira, dia 24, o ex-presidente Banco Central (BC), Gustavo Loyola concedeu uma entrevista ao canal CNN e falou sobre o que esperar em relação ao conflito recém iniciado e suas consequências econômicas.

"A agressão russa à Ucrânia agravou muito a situação dos Bancos Centrais, porque o mundo já vinha num processo de inflação em alta, a oferta no mundo ainda não se recuperou da crise da covid-19 e a demanda está muito aquecida em muitos países como é o caso, por exemplo, dos Estados Unidos. Então já havia esse dilema, que agora é agravado. É uma situação bastante complicada", destacou.

Em seguida, Loyola explica que "a tendência dos BCs americano e europeu é de buscar reduzir a inflação, ou seja, aumentar os juros". Ele lembrou também que "a inflação pode causar muito estrago" e por isso, em sua opinião, uma redução da demanda nos EUA é muito necessária.

Só que isso tem consequências aqui no Brasil, a elevação da taxa de juros nos EUA torna mais atrativos os investimentos por lá o que faz com que muitos investidores deixem seus negócios em países emergentes - como o Brasil - dando preferencia para o mercado norte-americano. Então o Brasil perde muito dinheiro estrangeiro o que desvaloriza ainda mais a economia aqui.

Então, Loyola acrescenta que "no Brasil, no curto prazo, o maior impacto será a inflação, a questão dos preços intrnacionais do petróleo e do gás, que vai refletir no preço em reais que já está bastante elevado". Outra consequência "seria a desvalorização adicional da nossa moeda".

Por outro lado Loyola também vê fatores que beneficiam o Brasil no curto prazo. "O Brasil é exportador de commodities e o preço das commodities tende a subir nessas crises, isso ajuda a reduzir o risco do Brasil".

Ainda assim, o ex-presidente do BC acredita que no longo prazo todas as economias mundiais deverão sofrer e que o Brasil seguirá essa tendência, com o PIB crescendo ainda menos do que o previsto em 2022 e talvez também nos próximos anos. "Principalmente se houver necessidade de se elevar os juros por causa da inflação", comentou. "Mas tudo vai depender da duração desse conflito".