Dia após dia, nos deparamos com uma alta ou baixa dos preços dos produtos e serviços. E embora seja a mesma porcentagem do reajuste, o sobe e desce não afeta todo mundo da mesma forma. A depender da renda, o impacto da inflação pode ser maior ou menor.

Não é necessário ser um especialista em economia para saber quando os produtos e serviços estão mais caros. Basta ir até o supermercado. Caso você saia de lá com menos produtos do que a última vez, ou o gasto foi o mesmo ou até mais alto, é sinal de que a inflação pesou no seu bolso, com o aumento dos preços.

Em suma, há diversos fatores que fazem o impacto da inflação não ser a mesma para todas as pessoas. E um desses, é a renda. Provavelmente você não compra os mesmos produtos e serviços que o seu vizinho. Porém, há semelhanças na cesta de consumo de pessoas que estão na mesma faixa de ganhos.

Geralmente, os grupos de mais baixa renda costumam sentir mais o peso da inflação do que quem tem renda maior. Sendo assim, entenda abaixo, por que isso acontece, e qual a direfença do impacto da variação dos preços por faixa de renda.

Por que a inflação é diferente para cada faixa de renda?

Em suma, cada pessoa possui um consumo individual diferente. Por isso, a inflação pessoal não é igual a inflação oficial do Brasil. Ou seja, o peso da inflação tem relação com o que você compra, e não com o que você ganha.

Enquanto isso, a sua renda é quem define o seu acesso aos produtos e serviços. Logo, quem ganha mais, pode comprar mais, seja em quantidade ou em diversidade de itens. Por outro lado, quem ganha menos, tem o seu consumo restrito a itens básicos.

Sendo assim, é mais fácil que duas pessoas de baixa renda, tenham uma cesta de consumo parecida, do que duas pessoas com renda maior. Pense, por exemplo, em duas pessoas, Julio e Daniela, que ganham R$ 10 mil por mês.

Enquanto Julio gosta de viajar e comer em restaurantes, Daniela é mais caseira, e preferente comprar itens para plantas e pedir comida em casa. Embora eles recebam o mesmo salário, eles sentem a inflação diferente, pois compram coisas muito distintas.

Feita essa comparação, imagine duas pessoas que recebem R$ 1.212 em 2022 (um salário mínimo). Por meio dessa renda, dificilmente eles conseguem sair do básico - alimentação, contas básicas e transporte. Nesse caso, não sobra dinheiro para comprar e diversificar os produtos e serviços. Por isso, a cesta de consumo acaba sendo muito semelhante.

Inflação por renda

Para esse cálculo, o Ipea considera as seguintes rendas mensais por família:

Faixa de renda Renda domiciliar
Renda muito baixa Menor que R$ 1.808,79
Renda baixa Entre R$ 1.808,79 e R$ 2.702,88
Renda média-baixa Entre R$ 2.702,88 e R$ 4.506,47
Renda média Entre R$ 4.506,47 e R$ 8.956,26
Renda média-alta Entre R$ 8.956,26 e R$ 17.764,49
Renda alta Maior que R$ 17.764,49

Fonte: Ipea

Por que a baixa renda sofre mais com a inflação?

Como dito acima, o orçamento da baixa renda só consegue comprar o básico. Sendo assim, nessa faixa de renda, a alimentação é uma prioridade. De acordo com os dados do IBGE, 60% da renda de quem ganha menos é gasta com comida.

Porém, o percentual sobe quanto menor for a renda. Além disso, as contas básicas de casa, como luz, gás, e água, também estão na lista das prioridades, bem como o transporte, seja ele público ou particular.

Conforme a economista Juliana Inasz, professora do Insper, "os produtos que têm subido bastante de preço são os ligados à subsistência, que afetam diretamente a baixa renda, que acaba gastando tudo o que tem com esses produtos. Não sobra nada para eles tentarem se proteger". E infelizmente, é justamente esse básico que sofre as maiores variações de preço.

Abaixo, entenda os motivos.

Alimentação: preços são influenciados pelo clima e dólar

Os preços dos alimentos, como os grãos e proteínas, é influenciado pela lei da oferta e demanda. Sendo assim, quando a oferta de um produto está baixo e a demanda alta, os preços sobem. E quando a oferta aumenta com a mesma demanda ou com ela menos, os preços diminuem.

A oferta depende de muitos fatores externos, como os climáticos. Seca fora de hora, frio muito intenso ou chuva a mais, podem diminuir a produção de alimentos básicos, e assim, reduzir a oferta no mercado interno. Logo: Oferta menor = preço maior.

Além disso, o Brasil é um dos principais produtores e exportadores de itens básicos de alimentação. Assim, quando um produtor exporta, ele vende a outros países, e ganha em dólar, enquanto que ao vender dentro do Brasil, recebe em real. Ou seja, vender para fora do Brasil é mais atrativo para quem exporta.

E quando o real está desvalorizado frente ao dólar, como é o caso atualmente, o exportador ganha ainda mais. Assim como quando há uma alta na demanda do exterior, é muito mais vantajoso vender para fora do país os produtos.

Contas básicas: influência do clima e investimento interno

O clima afeta a conta de luz. É dito isso, porque 65% de toda a eletricidade gerada no Brasil é hidráulica, conforme com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Em outras palavras, o Brasil é muito dependente de chuvas para manter as hidrelétricas cheias, e assim, ter energia.

Quando o Brasil vive um período de seca, a energia fica mais cara, pois em situações como essa, as usinas termelétricas são ativadas para compensar a perda de energia gerada pelas hidrelétricas. Nesses casos, o grande problema é que a operação das termelétricas é mais cara.

Para compensar esse custo, a Aneel usa as bandeiras tarifárias, que apontam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração de eletricidade. Aqui, é importante mencionar que o custo da energia poderia ser menor, se o Brasil investisse em outras formas de energia.

Transportes e gás de cozinha: influência do mercado internacional

A alta dos transportes tem relação, em especial, com a alta do petróleo, que é a matéria-prima dos combustíveis. O preço do petróleo produzido no Brasil, tem como base o preço internacional. Logo, quando esse valor sobe, o produto final também fica mais caro. Ou seja, o combustível, assim como o gás de cozinha, ficam mais caros.

E para piorar, de acordo com a Petrobras, mais da metade do preço do combustível corresponde a impostos estaduais e federais, custos adicionais como o biodiesel, e a margem da distribuição do diesel, e dos postos. Ou seja, o preço pago pelos brasileiros no diesel, gasolina e gás é mais alto, pois sofre a incidência de impostos, custos da distribuição, lucro e outros componentes no preço.

Afinal, de que forma a baixa renda pode sofrer menos com a inflação?

De acordo com a economista Juliana Inhasz, professora do Insper, o único caminho é o aumento da renda mesmo. Entretanto, nem isso tem auxiliado os brasileiros. Conforme os dados do IBGE, a renda média dos brasileiros tem caído trimestre após trimestre. Atualmente é de R$ 2.569 - o 2º menor valor em 10 anos.

E a situação tende a piorar em um ambiente de desemprego alto, que puxa essa renda ainda mais para baixo. Atualmente, mais de 10 milhões de pessoas estão desocupadas, de acordo com o levantamento do IBGE.

Por fim, a professora recomenda o seguinte para tentar driblar os preços altos na inflação: "O que as pessoas podem fazer para tentar se proteger dessa inflação é tentar substituir marcas por uma mais barata, substituir por tipos de produtos mais baratos, tentar evitar desperdício e fazer pesquisa de preços".