Segundo dados divulgados nessa quinta-feira, 2 de dezembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Brasil registrou pelo segundo trimestre consecutivo uma queda no Produto Interno Bruto (PIB): de abril a junho houve um recuo de 0,4% e de julho a setembro a redução foi de 0,1%. A partir disso, especialistas passaram a pontar que o Brasil vive um quadro de recessão técnica.

Mas afinal o que é uma recessão técnica? O que isso significa? Como chegamos nesse quadro e o que pode acontecer daqui para a frente? Buscando responder todas essas perguntas, trazemos esse artigo. Continue a leitura.

O que é recessão técnica?

A recessão técnica nada mais é do que o termo usado para definir um período de queda do Produto Interno Bruto (PIB), seja dois, três ou mais trimestres (porque o PIB é divulgado trimestralmente).

Porém, é importante ressaltar que a comparação para avaliar o PIB é feita com base nos meses anteriores e não com o mesmo período do ano anterior, como costuma ser com as análises trimestrais de investimentos, por exemplo. Dessa forma, é preciso ter uma diminuição contínua dos resultados do PIB.

O que significa dizer que o Brasil vive uma recessão técnica?

Na prática, uma recessão técnica tem a função de servir como um alerta. Seu PIB não vai bem, sua economia não só parou de crescer como está regredindo, a situação do país está se deteriorando, voltando a patamares que já haviam sido superados.

E como chegamos nessa situação? São vários os fatores que podem desencadear uma recessão técnica, mas de uma forma geral, elas são mais comumente observadas quando a taxa de desemprego aumenta, quando há uma inflação muito acentuada e, consequentemente, uma diminuição do poder de compra, o que resulta, por sua vez, em uma diminuição do consumo, numa queda da produção.

Ou seja, é uma situação em cadeia, onde um fato leva a outro e juntos, muitas vezes, eles acabam resultando em falências, ainda mais desemprego, ainda mais dificuldade econômica.

E é o que vem se observando no Brasil. Outro termo que vem sendo utilizado com mais frequência é o da Estagflação, que é utilizado para explicar um cenário em que há uma estagnação do desenvolvimento econômico, aliado à elevação ou até descontrole da inflação.

O Brasil também ainda não vive uma estagflação, porque para isso, é preciso que o PIB fique zerado ou negativo ao longo de um ano inteiro. E a expectativa para o PIB brasileiro em 2021, ainda que essas reduções estejam acontecendo, são de um PIB positivo, em cerca de 4,78%.

Para 2022, porém, as expectativa não são tão boas. Segundo o Boletim Focus divulgado no fim de novembro, o mercado está prevendo um crescimento de apenas 0,58% para o PIB no ano que vem. E essa expectativa, vale dizer, está caíndo semana após semana. O que também ajuda a acender o alerta.

Qual a diferença entre recessão real e recessão técnica? E entre crise e recessão?

Também é preciso considerar que existem diferenças entre a recessão técnica e a recessão real. Assim como existem diferenças entre recessão e crise econômica. Ou seja, o quadro é preocupante mas o cenário ainda não é o pior possível.

Segundo os economistas, como já dito, a recessão técnica é aquele alerta, quando começam a ser registradas algumas diminuições nos resultados. Já a recessão real nem dependende de ter dois ou mais trimestres negativos, porque ela considera outros fatores, ou melhor, um conjunto deles.

Assim, é possível decretar uma recessão real antes mesmo da divulgação dos dados do PIB. Para isso, a maioria dos indicadores econômicos - mercado de trabalho, atividade da indústria ou vendas no comércio, por exemplo - precisa apontar quedas consistentes.

Ok, mas e a crise econômica, o que é? Diferente do que a maioria das pessoas talvez pense, uma crise econômica não é, necessariamente, o pior cenário possível. Ela não é, necessariamente, uma evolução do quadro de recessão real. Sabia que um país pode viver uma crise econômica sem estar em recessão? Entretanto, sempre que um país vive uma recessão, ele estará vivendo uma crise econômica.

Isso acontece porque o termo crise econômica tem um caráter menos estrutural. Pode ser um problema específico relacionado a economia, mas que não chega a afetar significativamente outros setores. Uma crise econômica pode ser algo temporário, passageiro e se for apenas uma crise econômica desse tipo, ela pode ser até fácil de reverter.

Agora, uma crise econômica que se estabelece junto de uma recessão real é mais difícil de reverter. Justamente por esse carater mais estrutural. Aquele ciclo, de uma coisa que levou a outra. Resolver isso leva muito mais tempo e exigem medidas de longo prazo, olhando para toda a cadeia econômica.

Portanto, se você ouvir alguém dizendo (como já foi dito anteriormente), que o Brasil não vive uma crise econômica, mas uma recessão apenas, você já sabe que essa afirmação está incorreta.

Histórico de recessões do Brasil

E apesar de esse termo parecer bastante assustador, especialmente para as gerações mais novas, ou para aqueles que começaram a acompanhar a economia a menos tempo, na verdade, as recessões são velhas conhecidas do Brasil. Porque sim, o país já passou por outros momentos de recessão, e bem recentemente. Veja quais foram eles:

  • 2020: marcado pela crise da covid-19, o primeiro semestre de 2020 contou com várias quedas em cários setores, mas especialmente no que se refere aos serviços, que teve uma redução de 2,2% nos primeiros três meses. Além disso, o comércio também foi muito duramente afetado. Já no segundo trimestre, a mais afetada foi a Indústria, que teve uma queda de 12,3%, dado muito parecido com o do consumo das famílias que recuou 12,5% no segundo tri de 2020 também. Mas depois, com um breve hiato entre os picos de casos, com as adaptações de rotina para diminuir aglomerações, além daquelas relacionadas ao uso de máscara e álcool gel, houve uma recuperação, que foi afetada novamente pela segunda e terceira grandes ondas da covid-19 já em 2021;
  • 2015: antes da de 2020 a mais recente que foi registrada foi a de 2015. Naquele ano houve queda em todos os 4 trimestres do ano, o que afetou também o primeiro trimestre de 2016. A retração registrada no período foi de 3,8% e havia sido, até então, a maior queda anual do PIB desde a série iniciada em 1996 pelo IBGE;
  • 2008: o mundo todo passou por um período de recessão porque em 2008 tivemos uma crise financeira global, uma das recessões que mais marcaram a economia brasileira. Ela iniciou no último trimestre daquele ano e a economia brasileira caiu 3,8%, o pior resultado trimestral até então;
  • 2003: naqueles ano, os PIBs do primeiro e segundo trimestres de 2003 caíram 0,4% e 0,9%, respectivamente. Depois voltaram a se recuperar;
  • 2001: com três quedas seguidas entre o segundo e quarto trimestres daquele ano a primeira recessão registrada no Brasil desde o início da série do IBGE foi em 2001.

Então, você lembra de alguma dessas crises? Acompanhou alguma delas? E o que você acha do momento atual que o Brasil está vivendo. Será que tudo isso vai passar em breve?