O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial, registrou alta de preços de 0,89% em agosto. A taxa é superior ao 0,72% de julho deste ano e ao 0,23% de agosto do ano passado. Esta é a maior variação para um mês de agosto desde 2002 (1%).

No ano, o IPCA-15 acumula taxas de inflação de 5,81% e de 9,30% em 12 meses, segundo dados divulgados nessa quarata-feira, 25 de agosto, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Considerando o IPCA dos meses inteiros (não a prévia), temos uma inflação de 4,76% apenas em 2021 e de 8,99% na soma dos últimos 12 meses. Só no mês de julho a alta foi de 0,96%, ainda que a prévia tenha apontado para uma inflação de 0,72%.

Impactos na inflação

Na prévia de agosto, o principal impacto para a inflação veio do grupo de despesas habitação, que registrou alta de preços de 1,97%, influenciada pela energia elétrica, cujo custo subiu 5%.

Os transportes também tiveram contribuição importante, ao subir 1,11% na prévia do mês. O comportamento do grupo foi influenciado pelas altas de preços da gasolina (2,05%), do etanol (2,19%) e óleo diesel (1,37%). Em média, os combustíveis tiveram inflação de 2,02% no período.

Os alimentos e bebidas tiveram inflação de 1,02%, devido às altas de produtos como tomate (16,06%), frango em pedaços (4,48%), frutas (2,07%) e leite longa vida (2,07%).

O grupo saúde e cuidados pessoais foi o único que apresentou deflação (queda de preços), ao recuar 0,29% na prévia do mês.

Crise hídrica seguirá pressionando a inflação, diz presidente do BC

Em sua fala durante um evento online realizado nessa terça-feira, 14 de agosto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto disse que com os impactos no preço da energia elétrica, a crise hídrica seguirá pressionando a inflação nos próximos meses.

Ele também manifestou preocupação com a inflação dos serviços e com gargalos internacionais no fornecimento de insumos, como semicondutores, que afetam os preços de várias mercadorias. Especificamente sobre a inflação dos serviços, ele disse que o grande risco está no fato de que a recuperação ocorre de forma distinta entre os setores, criando desequilíbrios temporários.

Em relação à escassez de semicondutores, o presidente do BC disse acreditar que o problema esteja mais relacionado com o aumento da demanda provocado pela recuperação econômica global do que pela redução da oferta. Os semicondutores são materiais capazes de conduzir correntes elétricas, usados na produção de chips de smartphones e computadores. Nos últimos meses, tem havido falta de chips em todo o planeta, o que afeta a produção de diversos itens tecnológicos.

"A gente tem de fato uma espera um pouco maior [por semicondutores]. Mas se a gente olhar a produção, houve uma queda muito grande em um ou dois meses [no início da pandemia], mas em grande parte da pandemia, ela só aumentou. Então pode ter tido uma ruptura, mas acho que é mais um tema de demanda", declarou.

Meta e projeção para o ano

Na edição mais recente do boletim Focus, pesquisa de mercado feita toda semana pelo BC, os analistas financeiros disseram que a expectativa é que o índice feche este ano em 7,11% e atinja 3,93% em 2022. As projeções estão acima das metas de 3,75% em 2021 e de 3,5% no próximo ano.

Sobre o tema, o presidente do BC afirmou apenas que a autoridade monetária "vai perseguir a meta no horizonte relevante", indicando que a inflação deve convergir para a meta até o fim de 2022. Ele também ressaltou que as estimativas do mercado para o IPCA no próximo ano estão maiores que expectativas do BC.

"O controle de expectativas de preços é a variável mais fundamental na economia. O BC entende que é muito importante perseguir a meta em um horizonte relevante", destacou Campos Neto, reafirmando que a autoridade monetária tem os instrumentos necessários para fazer a inflação voltar às metas estabelecidas.