A inflação é um assunto que está presente quase que diariamente no noticiário econômico no Brasil. O assunto vive tão em alta, que todo mundo sabe o que o termo significa. Porém, isso não acontece com a deflação, termo que anda em lado aposto à inflação.

O termo se refere à baixa generalizada dos preços, e voltou a ganhar os holofotes nos últimos dias. A partir disso, passou a causar dúvidas entre os consumidores e os investidores. Mas afinal, o que significa a deflação? E mais: de que forma ela influencia na economia?

Abaixo, vamos te explicar tudo sobre o termo, e como ele impacta na sua vida.

O que é deflação?

A deflação é a queda generalizada de preços de produtos e serviços de forma contínua, e por um período longo. Mesmo que seja comum ver as pessoas chamando o recuo pontual de deflação, a baixa em um ou dois meses apenas não se configura como um processo deflacionário, e não permite dizer que ela é uma tendência.

Apesar disso, não há um consenso entre os economistas sobre a duração. É preciso tempo suficiente para que o fenômeno seja considerado uma tendência. Além disso, os recuos devem ser generalizados.

Ou seja, precisam afetar uma gama de produtos e serviços. As reduções em poucos segmentos não significam deflação, mesmo que influenciem de forma negativa, os índices inflacionários.

De acordo com Emerson Marçal, coordenador do curso de Economia da FGV em São Paulo, "Todos os preços precisam cair de forma sistemática para configurar deflação". Marçal reforça que o "Índice abaixo de zero em um mês não é considerado deflação".

Sendo assim, as baixas precisam ainda ser contínuas. Os preços são diminuídos na tentativa de despertar a demanda. A deflação acontece quando a oferta de produtos e serviços é maior que a demanda. Há mais itens à venda do que as pessoas estão dispostas ou têm condições de comprar.

Pode ocorrer também quando há a diminuição do volume de dinheiro em circulação. Menos moeda na praça leva a compra menores e baixa de preços. É o oposto da inflação, que é o aumento generalizado de preços de produtos e serviços de forma contínua e por um tempo longo.

Enquanto isso, a redução do ritmo da inflação, ou seja, diminuição do índice de um mês para outro, embora ainda positivo, é desinflação. E não deflação. Ou seja, atualmente o Brasil vive o processo de desinflação, e não de deflação como tem sido divulgado.

A deflação é boa ou ruim para a economia?

Em geral, é simples pensar que os preços em baixa são algo positivo. E são, se as quebras forem pontuais. Se você tem a expectativa de que daqui a um mês um bem estará mais barato do que hoje, vale a pena esperar para comprar.

Porém, a queda generalizada de preços por tempo indeterminado é ruim, já que isso significa que o poder de compra das pessoas está reduzido. E assim, os comerciantes e os prestadores de serviços cortam os seus ganhos para tentar vender mais.

Essa dinâmica pode levar a um ciclo vicioso. Com a estimativa de baixa, as pessoas adiam as suas intenções de consumo na expectativa de conseguir preços ainda mais baixos no futuro. O adiamento alimenta a declação, já que o comércio se vê obrigado a diminuir ainda mais os preços.

De acordo com André Braz, pesquisador do Ibre/FGV, "É um processo que se realimenta pela mudança de expectativas". Há um limite. Se um comerciante faz o seu estoque hoje por um certo preço, e precisa vendê-lo amanhã por um valor menor, terá prejuízo.

Caso o comerciante não consiga vender, então diminui ou suspende as suas encomendas. E assim, a indústria corta ou para a produção. Sem a expectativa de vendas, as empresas não investem. o cenário leva a demissões e até quebra de negócios.

A deflação é sinal de baixo crescimento ou economia estagnada. Logo, isso, contribui para um quadro de alta do desemprego, baixa do poder aquisitivo da população e depressão da atividade econômica em geral.

Segundo Estêvão Kopschitz Xavier Bastos, coordenador de Conjuntura no Ipea, "A deflação em si não é boa ou ruim. É mais um reflexo de outras condições na economia. Costuma estar associada a recessões, pois, nesses períodos, a demanda é baixa e deprime os preços".

"Em 2022, o mundo vive uma inflação alta em grande parte causada por choques de oferta. Assim, se os preços de commodities, fretes e insumos vierem a cair e isso causar deflação, não seria por causa de pouca demanda, mas por causa de uma normalização das condições de oferta", conclui Bastos.

O que leva à deflação?

Deflação é o resultado de oferta maior que a demanda e de menos dinheiro em circulação. Em geral, isso acontece, por conta de condições criadas por atividade econômica fraca.

De acordo com Emerson Marçal, coordenador do curso de Economia da FGV em São Paulo, "Deflação é resultado de uma estagnação forte da economia por razões gerais, como uma crise econômica séria". Além disso, ele explica que "É um sinal da doença, não a causa".

Ademais, os fatores pontuais podem gerar a baixa de preços sem que se configure um quadro de deflação. Tais como a isenção de impostos e o barateamento de matérias-primas. Eles acontecem por uma decisão de governos ou oscilações do mercado, não por problemas econômicos.

Mesmo que um índice de inflação como o IPCA apresente reduções, isso não significa que haja um cenário de deflação. Cada segmento tem um peso diferente na composição do indicador, logo, a baixa de preços em uma área importante pode puxar a média para baixo, embora a tendência não seja geral.

O que fazer para conter a deflação?

Existe uma série de medidas de políticas econômica e monetária que os governos e os bancos centrais podem tomar para interromper um processo de deflação.

Os bancos podem diminuir as taxas de juros, o que deixa o custo do dinheiro mais baixo, e aumenta o acesso ao crédito. Empréstimos e financiamentos mais baratos levam as pessoas a tomar recursos para gastar e as empresas a contrair dívidas para investir.

Enquanto isso, com os juros baixos, guardar dinheiro em aplicações financeiras não é mais atrativo, e isso, estimula o consumo e o investimento. Os governos podem ainda elevar os gastos públicos e o endividamento.

O que é pior: inflação ou deflação?

Tanto um período prolongado de deflação, como uma taxa de inflação elevada, são ruins. "Inflação boa é na meta", observou Braz. No Brasil, a meta definida pelo CMN para 2022 é de 3,5%. Existe um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o teto e o piso da meta.

A inflação, mas sob controle, é favorável por alguns economistas, embora essa não seja uma visão unânime. Ela atua como um termômetro da economia: aponta a sustentabilidade do consumo das famílias, e o crescimento do PIB.

A inflação sob controle ancora as estimativas dos agentes econômicos. Os preços são fixados de antemão. Se o empresário não confia na capacidade de o Banco Central (BC) de manter o índice na meta, ele repassa para os preços uma estimativa maior de inflação, mesmo antes da previsão se confirmar.

Por outro lado, se o BC cumpre a meta, não há uma razão para os reajustes. "O que faz com que os preços aumentem é a desancoragem de expectativas", disse Braz. A inflação elevada corrói o poder de compra da população.

E assim, o salário que cobre o consumo de um mês não é o suficiente para fazer o mesmo no próximo. Inclusive, crescem as incertezas sobre a economia, o planejamento fica difícil, e há a desestruturação do sistema financeiro.

Ademais, a deflação prolongada pode levar a um ciclo vicioso. Significa um sinal de economia estagnada ou recessão, o que leva a um fechamento de empresas, alta do desemprego, redução da renda da população e aumento da desigualdade.

"O melhor é a estabilidade de preços. Mas uma inflação baixa pode estar associada a períodos de crescimento e elevado nível de emprego. Já a deflação costuma estar associada a períodos de recessão e alto desemprego. Por isso, não pela inflação ou deflação, mas pelo estado da economia que elas indicam, talvez a deflação seja pior. Mas a inflação deve ser sempre bem baixa", concluiu Bastos.