Março começou e um dos eventos que terão destaque no mercado será a reunião do Copom, órgão do Banco Central, que irá analisar o cenário e deliberar sobre a taxa selic.

Na primeira reunião do ano, o Copom decidiu manter a selic, taxa básica de juros do Brasil, em 13,75% ao ano. A decisão tomada já era esperada pelo mercado financeiro.

Em 2023, como de costume, serão oito as reuniões nas quais os membros do Copom vão analisar a situação financeira e econômica do país e decidir o patamar da Selic para as semanas seguintes. Veja abaixo o calendário do Copom em 2023 e entenda como vai ser.

Atualmente, o mercado prevê um baixo recuo nos juros a partir de 2023, conforme mostra o Boletim Focus, relatório elaborado pelo Banco Central que traz projeções do mercado financeiro semanalmente.

O Brasil é um dos países com os juros mais altos do mundo, o que deixa a taxa selic sempre em debate.

Primeira reunião do Copom 2023: Selic mantida em 13,75% ao ano

Órgão do Banco Central do Brasil, o Copom disse que o ambiente externo segue marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial no próximo ano, alta volatilidade nos ativos financeiros e um ambiente inflacionário pressionado, embora com sinais mais positivos na margem.

"A política monetária nos países avançados em direção a taxas restritivas e a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais requerem maior cuidado por parte de países emergentes. Entretanto, dados recentes de atividade global têm sido relativamente resilientes e o relaxamento de restrições sanitárias na economia chinesa alivia a possibilidade de novas disrupções nas cadeias de suprimento globais", consta no comunicado do Copom.

Em relação à atividade econômica brasileira, o órgão disse que o conjunto dos indicadores mais recentes segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom.

Projeções

Segundo o Copom, não obstante algum arrefecimento, tanto a inflação ao consumidor quanto suas diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.

As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,7% e 3,9%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 5,6% para 2023 e 3,4% para 2024.

As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,6% para 2023 e 5,0% para 2024.

O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, cuja projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,6%.

Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,5% para 2023, 3,1% para o terceiro trimestre de 2024 e 2,8% para 2024.

O Copom julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

Riscos

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se

  • uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
  • a ainda elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais que implicam sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos; e
  • um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho.

Já entre os riscos de baixa, ressaltam-se:

  • uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
  • uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
  • manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023.

Segundo o órgão do Banco Central, toda essa conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária.

"O Comitê avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas", disse o órgão.

Decisão

Considerando os cenários avaliados, no Brasil e no exterior, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano (a.a.).

"O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024", disse o órgão.

Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Copom deve manter a Taxa Selic em 13,75% até inflação cair

O Copom reforçou que irá perseverar a taxa selic até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião.

"O Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação", disse o órgão.

"O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", consta na decisão.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Copom: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

Calendário Copom 2023: veja as datas das reuniões deste ano

O Banco Central já anunciou o calendário das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2023. Como dito acima, a taxa selic é revisada a cada 45 dias e a decisão pelo Comitê ocorre após os dois dias de reunião.

As primeiras reuniões do Copom em 2023 serão realizadas nos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro, quando a Selic foi mantida em 13,75% ao ano. O próximo encontro será realizado em março. Confira abaixo em quais dias a Selic será revisada em 2023:

  • 31 de janeiro e 1º de fevereiro;
  • 21 e 22 de março;
  • 2 e 3 de maio;
  • 20 e 21 de junho;
  • 1º e 2 de agosto;
  • 19 e 20 de setembro;
  • 31 de outubro e 1º de novembro;
  • 12 e 13 de dezembro.

Geralmente, as atas do Copom, com detalhes, são publicadas às 8 horas da terça-feira seguinte às reuniões do comitê, ou seja, na próxima semana da revisão da taxa. Mas, a decisão é anunciada no mesmo dia.

Quem é o COPOM do Banco Central?

Atual composição do Copom. - Créditos: Divulgação/BC.
Atual composição do Copom. - Créditos: Divulgação/BC.

Quem deseja acompanhar a economia deve conhecer o Copom, sigla para "Comitê de Política Monetária". Ele é o braço do Banco Central, composto por um presidente e diretores nomeados, que tem a função de definir a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) a cada 45 dias. Hoje, o presidente do Copom - e do Banco Central - é o economista Roberto Campos Neto.

Os membros do Copom, órgão do Banco Central (BC ou Bacen), reúnem-se em sessões de dois dias para estudar e discutir sobre diversos assuntos, como inflação, contas públicas, o desempenho da atividade econômica e o cenário internacional — e, claro, para ajustar ou não a SELIC. Ou seja, pode ser que a taxa aumente, recue ou não seja alterada.

Em cada reunião os membros do Copom analisam as projeções dos especialistas para os mercados e economias globais antes de tomar as decisões finais, por voto. As decisões do Copom são sempre tomadas com o objetivo de deixar a inflação medida pelo IPCA na meta definida pelo CMN.

Essa sopa de letrinhas não é tão complicada. No Brasil, a meta para a inflação é função do Conselho Monetário Nacional (CMN) e cabe ao Banco Central adotar as medidas necessárias para alcançá-la, por meio dos ajustes do Copom e outras atividades.

O índice de preços utilizado na meta para a inflação é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Todo esse longo processo é importante, visto que a taxa selic é a base, a referência, para a determinação dos demais juros do país. Dessa maneira, ela controla a inflação, financiamentos, empréstimos, bem como impõe a rentabilidade direta ou indireta de investimentos.

Depois da definição da selic pelo Copom, o Banco Central atua diariamente para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião, e isso acontece por ampla divulgação no mercado e por meio de compra e venda de títulos públicos federais.

O que é a Selic?

O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é um sistema do mercado financeiro brasileiro administrado pelo Banco Central do Brasil (Bacen), que se destina à custódia dos títulos do Tesouro Nacional, bem como ao registro e à liquidação de operações com esses títulos.

Basicamente, a Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Como tal, ela impacta todos os demais juros do país, bem como as taxas de empréstimos, financiamentos e investimentos. Saiba mais abaixo:

Projeções do mercado para 2023 - Focus

O Relatório Focus foi atualizado nesta segunda-feira, 30 de janeiro, e é válido para a semana. O mercado financeiro estima neste momento uma taxa selic de 12,50% ao ano para 2023.

Neste momento, a previsão do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, subiu de 5,48% para 5,74% em 2023.

Nos próximos anos, o avanço do PIB está estimado em 0,80% em 2023. A projeção é de 1,50%, 1,89% e 2026 para 2024, 2025 e 2026 respectivamente.

Já para 2023, a atual projeção cambial é de R$ 5,25 o dólar, que deve permanecer em R$ 5,30 nos três anos subsequentes.