A inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve queda de 0,68% no mês de julho, segundo dados divulgados na terça-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa foi a menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. Confira os detalhes da pesquisa e mais abaixo veja as projeções para a inflação.

O recuo acontece logo após o avanço registrado em junho desse ano, de 0,67%, e reflete a condição de deflação, que é quando os preços de produtos caem em determinado período. No resultado acumulado em 2022, a inflação é de 4,77% e, nos últimos 12 meses, de 10,07%.

Segundo o IBGE, o IPCA caiu em julho com influência de queda nos preços dos combustíveis, em particular da gasolina e do etanol, e da energia elétrica. Veja na tabela abaixo como a inflação oscilou nos últimos meses:

Inflação (IPCA) foi de -0,68% em julho de 2022, menor taxa desde 1980
Inflação (IPCA) foi de -0,68% em julho de 2022, menor taxa desde 1980

O relatório mostra que a gasolina caiu 15,48% e os preços do etanol tiveram baixa de 11,38%. A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem o IPCA, com -1,04 ponto percentual. Além disso, também foi registrada queda no preço do gás veicular, com -5,67%.

"A Petrobras no dia 20 de julho anunciou uma redução de 20 centavos no preço médio do combustível vendido para as distribuidoras. Além disso, nós tivemos também a Lei Complementar 194/22, sancionada no final de junho, que reduziu o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações. Essa redução afetou não só o grupo de transportes (-4,51%), mas também o de habitação (-1,05%), por conta da energia elétrica (-5,78%). Foram esses dois grupos, os únicos com variação negativa do índice, que puxaram o resultado para baixo", explica o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov.

O pesquisador também destaca que além da redução da alíquota de ICMS cobrada sobre os serviços de energia elétrica, outro fator que influenciou o recuo do grupo habitação foi a aprovação, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), das Revisões Tarifárias Extraordinárias de dez distribuidoras espalhadas pelo país, o que acarretou redução nas tarifas a partir de 13 de julho.

IBGE divulga pesquisa sobre inflação

Queda em vestuário e saúde

Outro grupo que contribuiu para o resultado da inflação foi vestuário, com uma desaceleração de 1,67% para 0,58%, após apresentar a maior variação positiva entre os grupos pesquisados nos meses de maio e junho. "A gente teve uma queda muito forte no preço do algodão, que é uma das principais matérias-primas da indústria têxtil, no final de junho", esclarece Pedro. As roupas masculinas passaram de 2,19% em junho para 0,65% em julho, enquanto as roupas femininas foram de 2,00% para 0,41%. Os calçados e acessórios (1,05%), por sua vez, tiveram variação um pouco abaixo do mês anterior, quando registraram 1,21%.

Também mostrou ritmo de desaceleração o grupo de saúde e cuidados pessoais (0,49%) devido à variação inferior dos valores dos planos de saúde (1,13%), na comparação com o mês de junho (2,99%), e à queda de 0,23% dos itens de higiene pessoal, frente à alta de 0,55% em junho.

Alimentos e bebidas registraram alta

Em contrapartida, o setor de alimentação e bebidas acelerou no mês de julho. "O grupo teve a maior variação (1,30%) e impacto positivo (0,28 p.p.) no índice do mês. O resultado foi puxado pelo leite longa vida que subiu mais de 25% e pelos derivados do leite como queijo (5,28%) e manteiga (5,75%), por exemplo. Essa alta do produto se deve, principalmente, a dois fatores: primeiro porque estamos no período de entressafra, que vai mais ou menos de março até setembro, outubro, ou seja, um período em que as pastagens estão mais secas e isso reduz a oferta de leite no mercado e o fato de os custos da produção estarem muito altos", comenta o gerente da pesquisa.

Destaque para a alta do leite que contribuiu especialmente para o resultado da alimentação no domicílio, que acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho. Outro destaque foram as frutas, com alta de 4,40% e impacto de 0,04 p.p. no IPCA de julho. No lado das quedas, os maiores recuos de preços vieram do tomate (-23,68%), da batata-inglesa (-16,62%) e da cenoura (-15,34%), que contribuíram conjuntamente com -0,12 p.p.

O grupo de despesas pessoais (1,13%) acelerou em relação ao mês anterior (0,49%) e contribuiu com o segundo maior impacto positivo (0,11 p.p.) no IPCA de julho. Os dois principais destaques foram os subitens empregado doméstico (1,25%) e cigarro (4,37%), este último por conta dos reajustes entre 4,44% e 8,70% nos preços dos produtos comercializados por uma das empresas pesquisadas, a partir de 3 de julho.

Todas as áreas tiveram variação negativa em julho. A menor variação foi registrada em Goiânia (-2,12%), onde pesaram as quedas de 21,57% nos preços da gasolina e de 14,90% na energia elétrica. A maior variação, por sua vez, foi em São Paulo (-0,07%), única região a apresentar alta de energia elétrica (0,37%) no mês. Adicionalmente, contribuíram também para o resultado da área as altas do leite longa vida (21,95%) e do aluguel residencial (1,85%).

Projeções para a inflação (IPCA)

Hoje, o mercado prevê uma inflação (IPCA) acumulada de 7,11% em 2022, segundo o Relatório Focus divulgado pelo Banco Central em 8 de agosto. Há uma semana, as expectativas eram de 7,15%. Por sua vez, a meta para inflação em 2022 é de 3,50%.

Segundo essa edição do Boletim Focus, o mercado aumentou de 5,33% para 5,36% a expectativa para a inflação de 2023.

Em 2024 e 2025, as projeções atuais apontam para um IPCA menor ainda: de 3,30% e 3,0%, respectivamente.

Taxa selic aos 13,75%

Por sua vez, como forma de controlar a inflação, o Copom - órgão do Banco Central - veio aumentando a taxa selic (taxa de juros que orienta a economia). Em 3 de agosto, foi realizada a quinta revisão da taxa básica de juros do país.

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, teve início na terça-feira, dia 2 e terminou no dia seguinte (3). A decisão do órgão foi por elevar os juros em 0,5 ponto percentual, passando a Selic de 13,25% para 13,75% ao ano.

O último aumento já era previsto pelo mercado. Mas, as altas devem terminar agora, visto que a expectativa é de que a Selic encerre 2022 nesses 13,75% ao ano.

Com informações, IBGE Notícias e Banco Central do Brasil.