Dentre tantos indicadores de resultados e projeções existentes hoje, a relação Dívida Líquida/Ebitda marca grande presença nos relatórios de resultados divulgados por empresas que precisam anunciá-los para investidores e analistas, como é o caso das companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

O Indicador Dívida Líquida/Ebitda é importante porque mostra a situação financeira da empresa, no que diz respeito ao pagamento da dívida com os recursos atuais.

Apesar de ser normal ter dívidas, as empresas precisam manter o nível de endividamento de forma saudável para demonstrar sua resiliência e seu compromisso junto aos investidores, credores e parceiros.

Nisso, a relação Dívida Líquida/Ebitda é o principal indicador. Conheça-o abaixo e veja como ele é analisado.

O que é Dívida Líquida/Ebitda?

A relação dívida líquida/ebitda é uma ferramenta que demonstra o quão uma empresa está alavancada. Em resumo, após um cálculo específico, com esse indicador é possível mensurar quantos anos, ou meses, a empresa demoraria para pagar suas dívidas com a geração de caixa.

Mas para entender o que é o indicador, é preciso conhecer a dupla Ebitda e receita líquida. Vamos lá:

Por sua vez, o Ebitda é uma sigla para "earnings before interest, taxes, depreciation and amortization", que quer dizer na tradução: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Dessa forma, o ebitda aponta os lucros que a empresa registrou em determinado período, apenas com suas operações, sem considerar outros fatores financeiros, como os tributos.

Por isso, é dito que o Ebitda é o indicador que demonstra a geração operacional de caixa da empresa.

A outra vertente da dupla, a dívida líquida, demonstra, como óbvio, o total de endividamento da empresa, envolvendo empréstimos e financeiros realizados. Isso ocorre após o desconto do caixa e recursos em disponibilidade naquele momento.

O cálculo é exatamente esse: uma subtração entre a dívida total do período e o caixa e equivalentes de caixa da empresa. O resultado é a dívida líquida, ou seja, a soma de todo o endividamento pendente.

Como calcular o Dívida Líquida/Ebitda?

Para calcular quanto uma empresa está alavancada, é preciso conhecer sua dívida líquida e a geração de caixa atual (lucro antes de impostos/ebitda). Depois, deve-se realizar a divisão entre os dois. Essa informação é muito fácil de ser conseguida, em especial por meio das centrais de relações com investidores das empresas.

O resultado da divisão, também chamada de razão, será a quantidade de anos que a empresa levaria para pagar a dívida, com o caixa atual. Ambos permanecem estáveis no cálculo, razão pela qual se deve acompanhar os resultados trimestrais de perto, não sendo recomendado usar apenas esse indicador dívida líquida/ebitda para tirar conclusões.

É possível, por exemplo, que a dívida e a alavancagem de uma empresa tenha aumentado entre dois períodos, mas por causa de uma aquisição estratégica (outra empresa) - que foi integrada ao negócio, gerando mais receita -, o que seria algo positivo. Por isso, a análise do indicador de alavancagem deve ser feita em conjunto com outros fatores.

Ao descobrir a alavancagem por Ebitda, aparecerá um número e ele deve ser considerado em "vezes", sendo muito comum a substituição dessa palavra pela letra "x". Por exemplo, uma alavancagem de 2x (duas vezes), de 1,0x (uma vez).

Como analisar o indicador Dívida Líquida/Ebitda?

O consenso diz que até 2x é considerado um nível saudável de endividamento. Ou seja, o indicador dívida líquida/ebitda a 2 vezes, que mostra que a empresa pagaria suas dívidas em dois anos com sua atual geração de caixa, é vista com otimismo pelo mercado. Após esse patamar, as empresas começam a preocupar.

Empresas muito alavancadas, a 5 vezes o ebitda, por exemplo, passam a indicar que, diante da atual geração de caixa, o pagamento das dívidas seria demorado, com possibilidade de entrar uma situação financeira ruim.

Outra forma de analisar o indicador é por meio de comparações entre períodos, como trimestres ou anos, bem como entre companhias de um mesmo setor. Lembrando que, quanto menor for o resultado do indicador Dívida Líquida/Ebitda, melhor é a situação financeira da empresa, em teoria. Por essa razão é muito comum que o indicador venha destacado nos relatórios trimestrais quando a empresa apresenta melhorias operacionais e redução da alavancagem.

Já o Indicador muito alto pode mostrar que a empresa possui atualmente um nível de dívida muito grande, frente ao que ela consegue pagar com o lucro de suas operações. É normal que empresas assumam dívidas, como por meio de emissão de debêntures e empréstimos a bancos, em meio a estratégias de crescimento e investimento no negócio. Mas quando as empresas estão muito endividadas, elas passam a receber um olhar de apreensão por investidores e analistas, visto que as companhias altamente endividadas caminham para uma situação financeira nada saudável.

O endividamento alto, com pagamentos irregulares e em déficit, leva empresas a dificuldades financeiras, ganhando fama de má gestora no mercado. Além disso, com a falta de recursos, as operações são comprometidas, bem como o pagamento de dividendos aos acionistas.

Uma empresa listada na Bolsa de Valores ainda sofre pressão no mercado financeiro, com suas ações "pagando" pela condição financeira insalubre.

Tenha como exemplo uma pessoa com muitas dívidas: todo dinheiro que entra, ou boa parte dele, é destinado às dívidas, mas elas continuam persistentes, impedindo que outras compras sejam concluídas. Nisso, o endividado "suja" seu nome na praça e fica impedido de realizar outros empréstimos, afinal, quem faria negócios com alguém em situação financeira tão ruim?

Estudo de caso: conheça a alavancagem da Petrobras (PETR4) em 2021

É comum também que os resultados das empresas da Bolsa de Valores venham com cálculos dos chamados "eventos não recorrentes", que podem ser positivos ou negativos para os ganhos. Além disso, existem variações, como conversão de moeda. Por isso, a análise dos resultados deve ser cuidadosa.

É o caso da Petrobras (PETR3/PETR4), cujo ebitda já ajustado totalizou R$ 234,576 bilhões em 2021. Já a dívida líquida da petrolífera, dada em dólares, fechou o ano a US$ 47,626 bilhões.

Com esses dados, já se pode calcular a alavancagem da Petrobas, não é mesmo? O procedimento é simples: basta realizar uma divisão entre a dívida líquida e o ebitda ajustado, assim como apontou o relatório de resultados da petrolífera recentemente. Entretanto, deve-se atentar para o fato de que a dívida da companhia é dada em dólar.

Assim, o resultado em dólar (com a cotação da época de criação do balanço) é 1,09x. Ou seja, a Petrobras demoraria pouco mais de um ano para quitar seu endividamento.