Assim como acontece aqui no Brasil, o governo dos Estados Unidos também realiza a emissão de títulos de renda fixa. O objetivo é arrecadar recursos, e financiar a dívida pública. Em geral, há duas razões que impulsionam a demanda pelos Treasuries norte-americanos. O primeiro se refere ao fato dos títulos serem emitidos pelo governo da maior economia do mundo. Logo, isso o torna um investimento extremamente seguro, e a chance de calote é praticamente nula.

Enquanto isso, o segundo motivo é a demanda mundial por dólar - a moeda de "proteção" do mercado financeiro. Em 2022, a alta dos juros pelo Federal Reserve (Banco Central dos EUA), estimulou ainda mais a compra dos títulos públicos dos EUA. Isso acontece, porque os rendimentos pagos por esses papéis aumentam com as taxas do país.

De acordo com Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos: "Os Treasuries são considerados os ativos mais seguros do mundo. É onde o dinheiro dos principais investidores institucionais do mundo ‘repousa’, principalmente em momentos de instabilidade, como agora". Além disso, Alves explica que "Com a inflação alta nas principais economias e os juros subindo nos EUA, esses títulos têm um poder de atração de capital cada vez maior, pois além de seguros estão remunerando bem em dólar".

No mês de janeiro, os juros dos EUA estavam zerados por conta da política monetária expansionista da pandemia. Entretanto, com a inflação no seu maior pico em 40 anos, acima de 9% em junho, o Fed teve que correr atrás dos preços e já aumentou as taxas para o intervalo entre 2,25% a 2,50%. A estimativa é que até o fim de 2022, os juros dos EUA fiquem entre 3,25% a 3,50%, e em 2023 cheguem a 4%.

Quais os títulos públicos mais populares?

Nos EUA, os títulos públicos mais populares são os prefixados:

  • Treasury Bills: vencimento em um ano ou menos;
  • Treasury Notes: vencem em até 10 anos e pagam juros aos investidores a cada 6 meses;
  • Treasury Bonds: têm vencimento entre 20 a 30 anos, e pagam juros aos investidores a cada 6 meses;
  • TIPs: a sigla significa "títulos do Tesouro protegidos contra a inflação". Em suma, são papéis indexados ao índice oficial de inflação dos EUA, o CPI (Consumer Price Index), e operam semelhantemente aos títulos do Tesouro Direto pós-fixados que acompanham o IPCA.

Vale a pena investir nos Treasuries dos EUA?

Em suma, os analistas consultados pela Forbes apontam que, em termos de rentabilidade, os Treasuries norte-americanos perdem para o Tesouro Direto brasileiro, o que diminui a sua atratividade.

Tendo em vista que os Estados Unidos são uma das economias mais consolidadas do mundo, a confiança institucional faz com que os Treasuries não precisem pagar tão bem seus investidores para garantir a demanda pelos títulos.

De acordo com Eduardo Melo, CEO da Prime Invest,

"Nossa economia é pior do que a deles, então precisamos pagar mais para o investidor que deseja colocar dinheiro no Brasil confiar que a dívida será honrada em 10, 15 anos. Lá, como se sabe da qualidade econômica, eles pagam muito pouco para os nossos parâmetros e nunca vão chegar perto da rentabilidade do nosso Tesouro Direto".

Em geral, os títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos rendem em torno de 2% ao ano. Neste ano, mesmo com a alta das taxas pelo Fed, o rendimento em agosto foi de 2,80% ao ano. Para se ter ideia, um título do Tesouro prefixado brasileiro com vencimento para 2033 tem retorno de 12% ao ano.

Por outro lado, o rendimento em dólar e a estimativa de novas altas dos juros pelo Fed também são atrativas do ponto de vista de proteção e diversificação de investimentos, conforme os especialistas.

"É um dos melhores momentos para se investir em Treasuries dos EUA nos últimos 15 anos. Com a perspectiva de aumento dos juros, o investidor de renda fixa global vai fazer a mesma aplicação com taxas de retorno cada vez melhores", diz o chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.

Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, aponta que, nos Estados Unidos, é mais interessante investir em renda fixa via títulos de dívidas de empresas privadas. "Esses papéis pagam em torno de 6% a 10% dependendo da qualidade do ativo. Já os Treasuries pagam muito pouco e o investidor pode perder para a inflação norte-americana, por exemplo".

Como investir nos títulos públicos dos EUA?

Para investir nos Treasuries dos EUA, você precisa ter uma conta em uma corretora norte-americana e um "social security number". Ou seja, um número que opera como se fosse um CPF. Ou ainda, você pode investir de forma indireta, através de fundos internacionais ou ETFs dos títulos públicos. Em geral, os dois replicam o desempenho de índices que acompanham os papéis originais.

Para isso, é necessário abrir uma conta em uma corretora brasileira que opera nos EUA. Os valores mínimos para esses tipos de investimentos partem de US$ 100,00. Para se ter ideia, Eduardo Melo cita como exemplo o ETF da BlackRock iShares 20+ Year Treasury Bond ETF. Conforme os dados da plataforma VettaFi, o Vanguard Intermediate-Term e o SPDR Portfolio Intermediate Term são alguns dos ETFs desse perfil com maior volume de negociação.

Por fim, outro meio de investir nos títulos de dívida dos EUA é via BDRs, os recibos de ativos estrangeiros na B3. Nessa situação, a aplicação é em R$, porém o saldo segue a variação da moeda norte-americana. Os códigos de alguns desses BDRs na B3 são BSHY39 (Treasuries de 1 a 3 anos), BIYT39 (Treasuries de 7 a 10 anos) e BTLT39 (Treasuries de 20 anos ou mais).