O termo "Recessão em 2022″ sofreu um aumento repentino de nas buscas no Google, em todo o mundo durante o mês de maio. Em determinado momento, a alta chegou a ser de mais de 4.500%. Mas afinal, por que isso aconteceu? As pessoas estão mais preocupadas? Estamos vivendo uma recessão econômica?

Segundo o Google Trends, o pico de popularidade nas buscas se deu nos últimos dias, a partir de 15 de maio principalmente, e a origem da maior parte das pesquisas utilizando o termo vem dos Estados Unidos, mas também do Canadá, Irlanda, Reino Unido, Alemanha, China e Austrália, entre outros países.

Ou seja, em todo o mundo nesse momento há pessoas preocupadas com a situação econômica. Isso não é necessariamente uma novidade, é claro. As dificuldades impostas pela pandemia e pelo pós-pandemia já causavam preocupação. Depois, a inflação alta em muitos países também acendeu o alerta de muitas pessoas, e mais recentemente a invasão da Rússia à Ucrânia agravou ainda mais a situação.

O que mudou agora, nesses últimos dias, então? Vamos entender tudo isso nesse artigo, assim como o que é uma recessão. Continue a leitura.

Economia dos EUA preocupa

De uma forma geral, os especialistas concordam que o aumento da preocupação com uma potencial recessão tem como base as incertezas observadas em relação à economia dos Estados Unidos, especialmente os ajustes da taxa básica de juros.

Recentemente o Federal Reserve (FED) elevou a taxa básica para a faixa entre 0,75% e 1% e novos ajustes são esperados para as próximas reuniões. Aliás, fala-se inclusive em dois aumentos de 0,5 ponto percentual para as duas próximas reuniões.

Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA também preocupa porque a atividade econômica norte-americana contraiu 1,5% no primeiro trimestre de 2022. Essa não é uma realidade só daquele país, é claro, mas como os EUA possuem uma das maiores economias e aquela que é tida como uma das mais sólidas, isso naturalmente preocupa.

Mas isso não é tudo. Há ainda a inflação do país que chegou a 8,5%. Essa é a maior inflação em 41 anos. Tudo isso junto, faz com que as pessoas fiquem mais atentas, questionando o que pode vir por aí.

Mas o que é uma recessão, afinal?

O termo recessão é utilizado para conceituar um quadro econômico em que há uma queda consistente em um grande número de indicadores econômicos e, mais do que isso, quando observa-se uma reação em cadeira dessa redução.

Porque são vários os fatores que podem desencadear uma recessão, mas de uma forma geral, elas são mais comumente observadas quando a taxa de desemprego aumenta, quando há uma inflação muito acentuada e, consequentemente, uma diminuição do poder de compra, o que resulta, por sua vez, em uma diminuição do consumo, numa queda da produção.

Ou seja, um fato leva a outro e juntos, muitas vezes, eles acabam resultando em falências, ainda mais desemprego, ainda mais dificuldade econômica.

O problema é que muitas vezes o termo recessão é confundido com outros, como crise econômica, por exemplo. Além disso, também existe a recessão técnica, sabia? Entenda as diferenças abaixo.

Recessão técnica, recessão e crise econômica: qual a diferença?

Segundo os economistas, a recessão técnica é o termo usado para definir um período de queda do Produto Interno Bruto (PIB), seja dois, três ou mais trimestres (porque o PIB é divulgado trimestralmente). Ele funciona como um alerta, quando começam a ser registradas algumas diminuições nos resultados.

Já a recessão real, como dito acima, envolve dados para além do PIB, como taxa de desemprego, inflação, poder de compra, etc. Então, para que se observe uma recessão nem é necessário registrar dois ou mais trimestres de PIB negativo. Ela pode vir de uma hora pra outra. Pode-se decretar uma recessão real antes mesmo da divulgação dos dados do PIB.

Não é o que normalmente acontece, é claro. Em geral, há uma progressão, ou seja, o problema inicia por uma recessão técnica e vai se agravando, mas é importante entender que um não depende do outro.

Ok, mas e a crise econômica, o que é? Diferente do que a maioria das pessoas talvez pense, uma crise econômica não é, necessariamente, o pior cenário possível. Ela não é, necessariamente, uma evolução do quadro de recessão real. Sabia que um país pode viver uma crise econômica sem estar em recessão? Entretanto, sempre que um país vive uma recessão, ele estará vivendo uma crise econômica.

Isso acontece porque o termo crise econômica tem um caráter menos estrutural. Pode ser um problema específico relacionado a economia, mas que não chega a afetar significativamente outros setores. Uma crise econômica pode ser algo temporário, passageiro e se for apenas uma crise econômica desse tipo, ela pode ser até fácil de reverter.

Agora, uma crise econômica que se estabelece junto de uma recessão real é mais difícil de reverter. Justamente por esse carater mais estrutural. Aquele ciclo, de uma coisa que levou a outra. Resolver isso leva muito mais tempo e exigem medidas de longo prazo, olhando para toda a cadeia econômica.

Mas então, em que ponto estamos?

Segundo os especialistas, o quadro atual não consititui ainda uma recessão, pelo menos no que se refere aos Estados Unidos. O que observa-se é o caminho para uma recessão técnica, ou seja, é o começo de um alerta. Mas a longo prazo, se a comunidde internacional não superar as dificuldades, pode sim ser registrada uma recessão real.

Isso não deve acontecer ainda em 2022, apontam bancos e economista. Mas a partir do próximo ano, a depender do que ainda está por vir em 2022, pode-se observar uma deterioração do cenário econômico, sim. A principal preocupação é que a perspectiva é de uma desaceleração na demanda por gastos do consumidor, que vai afetar o crescimento econômico.

E o Brasil no meio disso tudo?

O Brasil vê também uma recessão técnica muito de perto desde o fim de 2021. Os dois últimos trimestres do ano passado registraram queda no PIB, o que já classifica o país como vivendo recessão técnica oficialmente. Além disso, os dados oficiais do 1T22 ainda não foram divulgados, mas a previsão para o PIB segue sendo de menos de 1% para esse ano.

Mas ainda não se aponta a ocorrência de uma recessão real. A inflação segue alta, sim, e a taxa básica de juros brasileira - a Taxa Selic - também continua sendo elevada, mas os especialistas ainda não bateram o martelo.

Porém, uma eventual recessão nos EUA certamente impactaria no Brasil (como em todo mundo), principalmente pela redução do volume que seria exportado daqui pra lá. Consequentemente a atividade interna seria afetada.

Além disso, essa insegurança a nível mundial também é negativa. Ela faz com que as pessoas invistam menos, apliquem menos dinheiro, e o guardem mais, afinal não se sabe ao certo o que virá e o que pode acontecer. Assim, pode acabar vindo menos recursos para o Brasil nos próximos meses e anos, o que também afetaria a economia.

É momento de pânico?

A verdade é que não. Apesar de esse termo parecer bastante assustador, especialmente para as gerações mais novas, ou para aqueles que começaram a acompanhar a economia a menos tempo, na verdade, as recessões são velhas conhecidas do Brasil. Porque sim, o país já passou por outros momentos de recessão, e bem recentemente.

Em 2020, por exemplo, o primeiro semestre contou com várias quedas em vários setores, mas especialmente no que se refere aos serviços, que teve uma redução de 2,2% nos primeiros três meses. Além disso, o comércio também foi muito duramente afetado. Já no segundo trimestre, a mais afetada foi a Indústria, que teve uma queda de 12,3%, dado muito parecido com o do consumo das famílias que recuou 12,5% no segundo tri de 2020 também.

Mas depois, com um breve hiato entre os picos de casos, com as adaptações de rotina para diminuir aglomerações, além daquelas relacionadas ao uso de máscara e álcool gel, houve uma recuperação, que foi afetada novamente pela segunda e terceira grandes ondas da covid-19 já em 2021.

Mas não paramos por aí, antes disso, em 2015 foi registrada uma recessão, em 2008 outra, em 2003 também e em 2001 a primeira desse século. Sem falar naquelas que foram registradas antes disso.

Portanto, o momento agora é de observar, com cautela, sim, mas sem pânico.