Nesta terça-feira, 26 de abril, o dólar voltou a ver um momento de alta. Às 9h12 a moeda americana registrava um avanço de 0,51%, a R$ 4,90. Já ao meio-dia, a moeda batia os R$ 5 novamente. Assim, a moeda norte-americana está no maior patamar em mais de um mês.

Mas na verdade essa alta já teve início na véspera. No início do dia a cotação estava em cerca de R$ 4,7985 e ganhou tração no exterior com a piora dos mercados na Europa e à queda das matérias-primas por preocupações referente à economia da China.

Além disso, o Banco Central dos Estados Unidos também vem se mostrando mais agressivo em sua politica monetária, atraindo investimentos. E assim, na tarde dessa segunda, houve uma recuperação significativa em Wall Street, que vinha registrando quedas de 1,66%.

Isso acalmou a acalmou a preocupação dos compradores de dólares, e a moeda se distanciou das máximas, sem a necessidade de nova intervenção do Banco Central, no mercado de câmbio.

Dólar em recuperação?

Em suma, a pressão sobre as cotações atraiu a atenção. Na mínima do dia, a R$ 4,95 por dólar, o real acumulou a perda de 6,69% desde o fechamento de quarta-feira passada.

Em dois pregões, o real teve a sua pior cotação entre os seus principais pares emergentes. A alta do dólar acumulada em apenas duas sessões foi de 5,59%. E assim, passou de R$ 4,62, para R$ 4,90, a mais forte desde 18 de maio de 2017 (alta de 9,48%). Somente naquela data, o dólar aumentou 8,15% - por conta da delação de Joesley Batista, que envolveu o presidente da época, Michel Temer.

Somente na sexta, o dólar já tinha subido em torno de 4%, depois do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ter dito que uma alta de 50 pontos-base está na mesa para a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc). Além disso, também na sexta, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse em entrevista que "vê forte chance de alta de juros neste ano".

De acordo com Alexandre Espirito Santo, economista-Chefe da Órama, na ocasião, "Há uma percepção, outrora de poucos, de que o Federal Reserve vai precisar subir os juros numa velocidade muito maior, com alguns analistas já prevendo altas de 75 pontos-base para o próximo Fomc, o que pode beneficiar o dólar".

Além disso, os ruídos de natureza política novamente pesaram sobre o mercado nos últimos dias. Os investidores precisaram lidar com as novas manchetes sobre as chances de altos gastos com o Auxílio Brasil, em um cenário no qual os investidores já questionam as políticas econômicas a serem adotadas pelo governo em 2023.

Bolsonaro provoca crise entre os Poderes

Somado a isso, a crise entre os Poderes ganhou destaque, depois que o presidente Jair Bolsonaro anunciou na quinta-feira passada, o decreto que dava o perdão ao deputado Daniel Silveira. Em suma, ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por crimes de coação no curso do processo e atentado ao ​Estado Democrático de Direito.

De acordo com André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos,

"Mais preocupante, contudo, foi a tensão criada entre o Ministro Barroso do STF e as Forças Armadas sobre a lisura das urnas eletrônicas. Este assunto cria um clima de instabilidade forte para o pleito de outubro, e este tema é central para muitos investidores internacionais que veem na estabilidade democrática um ponto fundamental pra investimentos de longo prazo".

Segundo o economista, é complicado dizer se de fato, as mais recentes questões políticas estão "formando preço" no mercado. Entretanto, ignorar esses temas não parece uma opção. "Está evidente que o mercado está de olho já na eleição, e as rusgas trocadas por um ministro do Supremo e as Forças Armadas não é um sinal alvissareiro", finalizou Perfeito.

Commodities e isolamento na China

Ademais, o Citi cita que tanto a queda dos preços das commodities, quanto as revisões para baixos no crescimento da China, por conta das medidas de isolamento social mais fortes, fizeram o real registrar um alto movimento de queda em dois dias, bem como os sinais de aperto monetário e a tensão entre o Judiciário e o Executivo.

Enquanto os especialistas do banco não vêem os preços das commodities caírem indefinidamente, a redução no curto prazo pode fazer o real chegar entre R$ 5,12 e R$ 5,20. Um traço de reação pode vir de uma alta do IPCA-15, divulgado pelo IBGE na quarta-feira, caso venha acima do esperado e eleve a estimativa de uma alta mais prolongada da Selic.

Entretanto, o Citi diz que o Banco Central é um dos bancos centrais, que está próximo de se aproximar do fim do ciclo de aperto de juros. Ademais, a eleição vai pesar no real, e nos ativos locais. Dessa forma, os fundamentos e os indicadores técnicos aumentam "o conforto" em prováveis posições compradas em dólar, com os analistas vendo a próxima resistência em R$ 4,96.