Se você acompanha as notícias sobre criptomoedas já deve ter ouvido falar de um evento que está acontecendo e que envolve a criptomoeda ethereum (ETH), a prata das moedas virtuais, cujo preço só perde, hoje, para o bitcoin (BTC). Estamos falando do "The Merge", que na tradução seria algo como "A Fusão".

Junto com esse evento, há uma expectativa em relação a uma elevação nos preços da moeda. Hoje a cripto que executa contratos inteligentes e aplicações descentralizadas usando a tecnologia blockchain é negociada na faixa dos US$ 1,5 mil e US$ 1,6 mil dependendo da variação do dia.

Mas afinal, o que é isso que está acontecendo e porque existe essa expectativa toda? O que vai mudar em relação a ethereum? Qual são as perspectivas futuras da cripto? Saiba tudo isso e mais abaixo.

O que é o The Merge e quando vai acontecer?

Conhecida como "The Merge", a fusão permitirá a migração da rede ethereum do Proof of Work (PoW) - sistema atual, que também é usado pelo bitcoin (BTC) - para a Proof of Stake (PoS). O evento é aguardado desde a criação do ethereum, em 2015, mas foi adiado durante anos. Porém, ele já vem acontecendo em etapas há alguns meses. Esse momento de agora será, portanto, uma das últimas fases.

E a madrugada dessa quinta-feira, 15 de setembro, foi um momento de virada. O processo do The Merge já vinha sendo preparado desde por volta do dia 6 de setembro. Nessa etapa, a equipe de desenvolvedores vinha analisando os desdobramentos do teste para otimizar os processos envolvidos e, assim, ganhar confiança para implementar a mais importante mudança na história do ethereum: o fim da mineração na plataforma.

E por volta das 3h42 (horário de Brasília) dessa madrugada, a fusão foi concluída, segundo sites especializados na criptomoeda. Neste horário, a variável Terminal Total Difficulty (TTD), que representa a soma da dificuldade de mineração de todos os blocos processos na rede proof-of-work, atingiu o número marcado para dar início à Fusão e o Ethereum oficialmente trocou de mecanismo de consenso.

Na transmissão oficial acompanhada por mais de 40 mil pessoas, a comemoração foi generalizada quando a imagem de um panda apareceu na tela, com a legenda "POS Activated":

Transmissão ao vivo do momento em que a fusão foi ativada. Créditos: Reprodução/YouTube
Transmissão ao vivo do momento em que a fusão foi ativada. Créditos: Reprodução/YouTube

O que acontece é que a partir do novo sistema os blocos na rede blockchain são gerados pela própria moeda - esse sistema é similar ao utilizado na Cardano (ADA), por exemplo. Assim, o método para processar as transações funciona de modo aleatório e os usuários que possuem a moeda validam as transações de outros negociadores. Dentro desse sistema, o bloco não é minerado, ele é construído.

O que muda?

A principal mudança, portanto, é que a criptomoeda não terá mais a necessidade de ser minerada. Seu objetivo é unir a blockchain original, que é mantida por um sistema de mineração similar ao do bitcoin (BTC), com a rede que funciona sob o sistema PoS, em que os usuários travam tokens ETH para atuarem como validadores e serem remunerados por isso.

Na prática, carteiras com 32 ethereum se tornarão validadores das transações, recebendo uma taxa por isso e de acordo com dados da OKLink - divulgados pelo BlockTrends - ao menos 13,3 milhões de Ethers estão trancados com a finalidade de promover as validações da rede. O valor equivale a cerca de R$ 104 bilhões, que renderão uma renda passiva aos investidores.

Sem a necessidade de mineração no processo, a expectativa é de que a emissão de novos tokens caia drasticamente, ocorrendo o que já foi apelidado de "triple halving", em alusão ao evento que reduz pela metade as emissões de Bitcoin.

Mudança é polêmica, mas é ESG

Existe uma série de fatores envolvidos e que dividem as opiniões. De um lado, estão aqueles que defendem que o uso de máquinas para resolver cálculos matemáticos e dar sustentação à blockchain do bitcoin (a mineração) dá mais segunça à rede.

Por outro lado, porém, a PoS que será adotada pelo ethereum, promove a validação com uso menos intenso de energia, ou seja, menos poluente e agressivo com o meio ambiente, e por isso é considerada uma mudança ESG (sustetável). Aliás, a ethereum pós-fusão está prometendo ser o ativo mais eficiente em consumo energético, porque o gasto com energia diminuirá cerca de 99%.

Além disso, há aqueles que destacam que a rede ethereum irá aumentar a oferta de tokens em 0,4% ao ano, contra os atuais 4,3%, tornando o Ether mais escasso. Para aqueles que já investiram na moeda, a escassez costuma ser boa já que a raridade é um fator que costuma elevar o preço do ativo.

Então, o preço da criptomoeda vai subir?

A expectativa é essa. A redução nas emissões de novos tokens, além de uma recuperação no mercado cripto ajudaram o ethereum a sair da espiral negativa em que se encontrava após os riscos de liquidação de contratos de empréstimo com colateral em cripto.

E o resultado, na verdade, é até de uma antecipação do lançamento da rede, que fez o preço da segunda maior criptomoeda dar um salto de 115% recentemente. Ainda assim, espera-se que seu preço continue subindo justamente por causa de fatores como o citado acima.

Inclusive, antusiastas do ethereum apostam na migração da rede como fator decisivo para permitir que o ETH tome o posto do bitcoin como maior criptomoeda. Atualmente, o BTC possui um valor de mercado de R$ 2.02 trilhões, contra R$ 970 bilhões do ethereum.

Chance para outras criptos

Especialistas estão apontando para esse momento como uma oportunidade de crescimento do ethereum, mas também de outras criptos já que muitos entusiastas desse universo seguem conseguindo criptomoedas a partir da mineração e não só através da compra. Como a ethereum não deverá mais ser minerada, o foco deve se voltar para alternativas.

Uma das opções que vêm sendo citada por especialistas é a Ravencoin (RVN). Ela foi lançada em 2018 e surgiu de um fork do Bitcoin, funciona através do algoritmo de prova de trabalho KAWPOW atualmente, agrupando transações em blocos de dados e, em seguida, vinculando os blocos criptograficamente. Atualmente essa cripto está cotada a R$ 0,14.

Outra alternativa é o ethereum classic (ETC). Ele é o resultado de um hard fork ocorrido no ethereum em 2016 e agora, com a implementação do The Merge, o ETC pode "ganhar vida", segundo alguns especialistas. De acordo com a analista Manisha Mishra, o ETC vem subindo mais que o Ether devido ao The Merge então é bom ficar de olho. Hoje, cada ETC custa cerca de R$ 170.