O Banco Central divulgou nessa terça-feira, 28 de setembro, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, quando a Taxa Selic foi elevada em mais 1%, passando a ser de 6,25% ao ano. Segudo o documento, as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 8,5% para 2021, 3,7% para 2022 e 3,2% para 2023.

Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,25% a.a. neste ano e para 8,50% a.a. durante 2022, e reduz-se para 6,75 % a.a. em 2023. Essas expectativas do Copom, vale dizer, são bastante semelhantes às expectativas do mercado, divulgadas semanalmente pelo Boletim Focus.

A ata também mostra que nesse cenário, as projeções do Copom para a inflação de preços administrados são de 13,7% para 2021, 4,2% para 2022 e 4,8% para 2023. Adota-se ainda a hipótese de bandeiras tarifárias "escassez hídrica" em dezembro de 2021 e "vermelha patamar 2" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

Veja com mais detalhes alguns dos pontos discutidos na reunião e o que diz o Copom sobre cada um deles.

Cenário externo

A ata mostra que o grupo, composto pelo Presidente do Banco Central e por outros oito diretores, vê com bos olhos os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias, pois esse cenário sustenta "um ambiente favorável para países emergentes".

Porém, por outro lado, observam-se dois fatores de risco para o crescimento de economias como a do Brasil:

  • Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid19;
  • Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes.

Políticas fiscais

Além disso, entre as discussões do Comitê na reunião, também estiveram as políticas fiscais em resposta à pandemia. Sobre isso, a ata mostra que o comitê acredita que novos prolongamento dessas políticas "que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária".

Confiança na retomada da economia

Além disso, o Comitê se mostrou confiante de uma "retomada robusta da atividade no segundo semestre, na Medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente", diz a ata. Para 2022, o Copom considera que o crescimento da economia será beneficiado por três
fatores:

  • Primeiro, pela continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços, mesmo que em menor intensidade do que se antecipava anteriormente;
  • Segundo, pelo desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa; e
  • Terceiro, por resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária arrefece.

Seguir o ritmo de elevação de juros

Diante de pontos como os trazidos acima o Copom também avaliou os custos e benefícios de acelerar o ritmo da elevação dos juros. Foram considerados que o estágio do ciclo de ajuste é caracterizado por uma política monetária já efetivamente contracionista, o que é evidenciado quando se observa a diferença das expectativas para as trajetórias da taxa de juros e da inflação ao longo do horizonte relevante de política monetária.

O Copom também considerou que "simulações com trajetórias de elevação de juros que mantêm o ritmo atual de ajuste, mas consideram diferentes taxas terminais, sugerem que o atual ritmo de ajuste é suficiente para atingir patamar significativamente contracionista e garantir a convergência da inflação para a meta em 2022, mesmo considerando a assimetria no balanço de riscos".

E, além disso, segundo a ata, o Copom também apontou que é preciso observar o peso de itens voláteis nas revisões das projeções de inflação de curto prazo e que há um ineditismo nesse processo de readequação econômica pós-pandemia. Tudo isso, segundo o comitê, "reforça o benefício de acumular mais informações sobre o estado da economia e a persistência dos choques em vigor".

Por isso, foi mantido o ritmo de ajustes, que vinha sendo de 0,75% e passou para 1% em agosto. Esse foi considerado, como já dito, um patamar significativamente contracionistas, o que é tido como a "a estratégia mais apropriada para assegurar a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023".

Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude

E por fim, para a próxima reunião, o Comitê destacou que antevê outro ajuste da mesma magnitude. "O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária", mostrou ainda a ata.

As reuniões do Copom acontecem a cada 45 dias. Esse último encontro, o sexto do ano, aconteceu nos dias 21 e 22 de setembro e a sétima e próxima reunião está marcada para os dias 26 e 27 de outubro. Participam da reunião o presidente e oito diretores do Banco Central, que se reúnem em sessões de dois dias para estudar e discutir sobre diversos assuntos, como inflação, contas públicas, o desempenho da atividade econômica e o cenário internacional — e para ajustar a taxa Selic.

A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, pois ela orienta os demais juros do país, impactando desde empréstimos e financiamentos até a performance de diversos tipos de investimentos, principalmente os de renda fixa, como títulos públicos.

O documento completo pode ser conferido clicando aqui.