O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) acabou de encerrar a sexta reunião de 2021 e cumpriu com aquilo que já era esperado: a Taxa Selic - que é a taxa básica de juros do Brasil - foi elevada em mais 1%, ficando em 6,25% ano ano. Esse foi o quinto aumento consecutivo dela, que iniciou 2021 em 2%.

Esse foi o segundo aumento de 1%, depois de uma série de três aumentos no patamar de 0,75%. Porém, ele já havia sido previsto pelo próprio Copom, conforme o relatório divulgado após a última reunião, que aconteceu no início de agosto.

Esses aumentos vêm acontecendo numa tentativa de controlar a inflação que já soma uma alta de 9,68% nos últimos 12 meses. "O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista", disse o órgão.

Além disso, o mercado financeiro também já esperava por esse aumento, principalmente tendo em vista que a projeção da Selic para 2021 nesse momento está em 8,25% ao ano. Ou seja, o mercado não apenas previa esse aumento como acredita que nas próximas reuniões que ainda acontecerão em 2021, novos aumentos ainda sejam determinados.

Aliás, o próprio Copom também acredita que esses aumentos devem mesmo acontecer pois anunciou que "para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude". As próximas reuniões do Copom estão marcadas para os dias 26 e 27 de outubro e 7 e 8 de dezembro.

Veja na íntegra a nota do BC divulgada nessa quarta-feira, 22:

Em sua 241ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 6,25% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo observam-se dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes. Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes. No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes. O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do segundo trimestre, assim como os indicadores mais recentes, continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre;
  • A inflação ao consumidor segue elevada. A alta nos preços dos bens industriais - decorrente de repasses de custos, das restrições de oferta e do redirecionamento da demanda em direção a bens - ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo. Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada. Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,3%, 4,1% e 3,25%, respectivamente; e
  • No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,25*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 8,5% para 2021, 3,7% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,25% a.a. neste ano e para 8,50% a.a. durante 2022, e reduz-se para 6,75% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 13,7% para 2021, 4,2% para 2022 e 4,8% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias "escassez hídrica" em dezembro de 2021 e "vermelha patamar 2" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 6,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

Inflação ja soma 9,68% de alta em 12 meses

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a inflação oficial do país - teve um aumento de 0,87% no mês de agosto de 2021, totalizando um aumento de 5,67% apenas em 2021 e de 9,68% nos últimos 12 meses, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com esses dados, a inflação já ultrapassa a meta do governo para o ano, cujo centro era de 3,75%, podendo variar entre 2,25% e 5,25%. Entre os itens que mais vem pesando no bolso dos brasileiros estão os combustíveis, que tiveram uma alta de 2,96% apenas em agosto, e a energia elétrica, já que uma nova bandeira tarifária foi estabelecida por causa da crise hídrica. Além disso, o gás de cozinha também vem subindo mês a mês e os alimentos não ficam para trás.

Como a Selic controla a inflação?

Abreviação de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, a Selic tem como papel orientar os demais juros do país e controlar a inflação, como já foi dito. Mas afinal, como ela faz isso?

A resposta é mais simples do que pode parecer num primeiro momento: quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. O lado ruim é que desse modo as taxas mais altas podem dificultar a recuperação da economia.

Por outro lado, quando o Copom reduz a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. Isso aconteceu ao longo de 2020 quando a Selic chegou a ser definida em 2% ao ano, patamar mais baixo de sua história desde o início da série histórica, em 1996.

Como esse novo aumento pode afetar seu bolso?

A taxa de juros Selic é uma referência para todos demais juros da economia brasileira e por isso, seus reajustes podem oferecer impactos para todos nós. Há duas principais formas de nos impactar. São elas:

  • Empréstimos e financiamentos: com a Selic mais alta, eles ficam mais caros;
  • Aplicações financeiras: vários são os investimentos que têm relação com a Selic, direta ou indiretamente.

Em relação aos empréstimos e financiamentos, é importante estar atento porque as taxas de juros possivelmente serão reajustadas na mesma medida a partir de agora, o que vai encarecer esse tipo de serviço.

Já em relação aos investimentos, é interessante que voltemos o nosso olhar com um pouco mais de atenção, porque são várias formas de impacto. Veja.

Como a Selic impacta nas aplicações financeiras?

Uma das aplicações financeiras impactadas pela alta da Selic é o Tesouro Nacional. Entre os títulos emitidos por ele, há vários que levam em consideração a Selic e isso pode ser até bom para os investidores que passarão a ter um rendimento um pouquinho maior a partir de agora.

Além disso, a própria poupança é afetada já que ela oferece um rendimento de 70% da Selic. Portanto, se antes a Selic estava em 5,25% ao ano e a poupança rendia 3,675% ao ano, agora com a Selic a 6,25%, a poupança passa a oferecer um retorno de 4,375% ao ano. Isso também torna a poupança um pouco mais interessante ainda que esse rendimento não cubra a inflação do período.

Também é interessante destacar que mesmo as ações podem ser impactadas pela Selic, ainda que indiretamente, para o bem ou para o mal. Isso porque alguns setores se beneficiam de uma Selic mais alta enquanto outros são prejudicados.

Entre os que se beneficiam estão dos bancos, por exemplo, porque o aumento da taxa de juros pode aumentar o "spread", com crescimento direto na margem financeira bruta dessas instituições financeiras.

Por outro lado, o setor de construção civil, por exemplo, tende a sofrer um impacto negativo, já que o financiamento imobiliário se torna mais caro e as pessoas, portanto, tendem a procurar menos por imóveis.

E, por fim, é preciso considerar também que o rendimento de alguns tipos de ativos pode jogar contra eles com uma Selic mais alta. Com uma Taxa Selic mais baixa eles até poderiam ser boas opções de investimentos, mas com a Selic mais alta eles perdem um pouco da competitividade e por isso são impactados negativamente por essa taxa.

O Comitê de Política Monetária (Copom)

O Comitê de Política Monetária (Copom) é um órgão do Banco Central, formado pelo seu Presidente e oito diretores, e ele se reúne a cada 45 dias para definir, entre outras coisas, a taxa básica de juros da economia - a Selic.

As reuniões normalmente ocorrem em dois dias seguidos e o calendário de reuniões de um determinado ano é divulgado até o mês de junho do ano anterior.

A reunião do Copom segue um processo que procura embasar da melhor forma possível a sua decisão. Os membros do Copom assistem a apresentações técnicas do corpo funcional do BC, que tratam da evolução e perspectivas das economias brasileira e mundial, das condições de liquidez e do comportamento dos mercados.

Assim, o Comitê utiliza um amplo conjunto de informações para embasar sua decisão. Depois, a reunião é reservada para a discussão da decisão entre os membros. A decisão é tomada com base na avaliação do cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados. Todos os membros do Copom presentes na reunião votam e seus votos são divulgados. As decisões do Copom são tomadas visando com que a inflação medida pelo IPCA situe-se em linha com a meta definida pelo CMN.

A decisão do Copom é divulgada no mesmo dia da decisão por meio de comunicado na internet. As atas das reuniões do Copom são publicadas no prazo de até seis dias úteis após a data da realização das reuniões. Normalmente, as reuniões do Copom ocorrem em terças e quartas-feiras e a ata é divulgada na terça-feira da semana seguinte, às 8 horas.