Desde a última quarta-feira, 21 de julho até o próxima segunda-feira, dia 2 de agosto, está acontecendo o período de reserva de ações da Raízen (RAIZ4), parte do processo de oferta pública inicial da companhia que é composta pelas empresas Cosan e Shell. E esse IPO tem dado o que falar.

Primeiro porque ele era bastante esperado já que desde meados de março a mídia vinha apontando que ele aconteceria. Segundo porque são empresas muito conhecidas, de setores (energia e combustíveis) que costumam ser bastante potentes e para o qual há grandes expectativas para o futuro. Por isso, muitas pessoas tem se questionado: entrar ou não em um IPO como esse?

Há muitos prós e contras envolvidos, como em qualquer IPO. Nesse artigo, vamos falar um pouco mais sobre isso, trazendo informações também sobre os preço das ações, sobre a Raízen e a avaliação de alguns especialistas para essa oferta. Veja só:

Riscos de um IPO

Todos os IPOs possuem suas vantagens e desvantagens. O maior dos prós é que sempre há um grande potencial de crescimento. Uma empresa que abre seu capital, em geral, utiliza esse valor pra crescer fazendo aquisições, ampliando seu capital em caixa, investindo em novas instalações ou ampliação das existentes, melhorando a qualidade de seus serviço.

Por outro lado, sempre há a possibilidade de um efeito contrário. Quando uma empresa está começando sua trajetória na bolsa, ainda que seja uma empresa grande e conhecida, não temos como saber detalhes a respeito de sua trajetória, sua situação financeira e sua adinistração (porque antes de entrar na bolsa muitas informações não são divulgadas).

Além disso, é feita uma precificação da empresa para o IPO e depois, nas semanas que se seguem à oferta inicial, o volume de negociações da bolsa, a lei de oferta e procura, vão balizar esse preço para mais ou para menos. Nunca há como saber com certeza.

Veja abaixo alguns dos melhores e dos piores resultados em IPO nesse sentido:

Positivos

  • Méliuz: De R$ 10 para R$ 66,88 (alta de 569%)
  • Locaweb: De R$ 4,31 para 26,77 (alta de 521%)
  • 3R Petroleum: De R$ 21 para R$ 42,61 (alta de 103%)

Negativos

  • Moura Dubeux: De R$ 19 para R$ 9,29 (queda de 51%)
  • D1000: De R$ 17 para R$ 9,09 (queda de 47%)
  • Mitre: De R$ 19,30 para R$ 11,58 (queda de 40%)

Precificação IPO Raízen

No caso da Raízen, a faixa indicativa de peços do IPO está entre R$ 7,40 e R$ 9,60, e a expectativa é de que a ação (RAIZ4) fique a um preço médio de R$ 8,50 cada. Porém, na oferta de varejo, os investidores precisam investir um valor mínimo de R$ 3.000,00 para poder participar da reserva. O valor máximo é de R$ 1 milhão.

Desta forma, considerando a base inicial, a Raízen pode levantar no mínimo R$ 6,891 bilhões - o que fica abaixo das estimativas de R$ 10 bilhões traçadas pelo mercado nos últimos meses. Entretanto, o IPO também poderá contar com lote adicional e pacote suplementar, o que envolveria um montante maior.

A precificação das ações preferenciais da Raízen acontecerá no dia 3 de agosto, segundo o atual calendário. Já a conclusão do IPO e a listagem da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) está prevista para 5 de agosto deste ano.

Sobre a Raízen

Fundada em 2011, a Raízen é fruto de Joint venture entre a Cosan, já listada na B3 com a ação CSAN3, e a Royal Dutch Shell (BDR: RDSA34). Atualmente, a companhia é um dos maiores grupos privados do Brasil, tendo mais de 29 mil funcionários espalhados em várias linhas de negócio, sendo as principais: energia, combustíveis e açúcar. A Raízen é considerada líder mundial em biocombustíveis.

Raízen é controlada por Cosan e Shell. - Imagem: Divulgação/Raízen.
Raízen é controlada por Cosan e Shell. - Imagem: Divulgação/Raízen.

A companhia controla a Raízen Energia, que opera no setor renovável. Além disso, houve recentemente a aquisição da Biosev, empresa do setor sucroenergético, para aumentar o portfólio de energia limpa. Com o IPO, a produção de energia nos produtos renováveis da Raízen devem dominar ainda mais o mercado, visto que a empresa pretende investir 80% dos recursos captados com a oferta nessa área.

Destacando seu ponto forte, que é o setor de energia renovável, a Raízen disse pela minuta do IPO que se considera líder mundial de biocombustíveis e um dos grandes nomes globais em sustentabilidade.

"Somos uma das maiores e pioneiras empresas completamente integradas de energia renovável do mundo, operando em toda a cadeia de valor de biocombustíveis e de energia renovável: "do solo-ao-tanque" e da "biomassa-à-eletricidade", disse a Raízen. "O modelo de negócios integrado nos garante controle da nossa matéria-prima, a biomassa para produção do nosso portfólio de produtos renováveis e a distribuição diretamente para pessoas físicas e clientes corporativos através de nossas plataformas de comercialização e redes de distribuição próprias".

Últimos resultados da Raízen

Segundo o balanço de resultados divulgado pela Raízen, a companhia registrou uma receita operacional líquida de R$ 114,602 bilhões no primeiro trimestre de 2021 (1T21), o que representa uma queda de 5% em relação ao mesmo período de 2020.

Por sua vez, o lucro líquido consolidado atingiu R$ 1,524 bilhão entre janeiro a março de 2021, sendo uma retração de 32% na comparação anual, enquanto o ebitda ajustado totalizou R$ 6,594 bilhões após cair 3,6% no período, assim como pode ser comparado na tabela abaixo:

Últimos resultados financeiros e operacionais da Raízen. - Fonte: Prospecto preliminar/CVM.
Últimos resultados financeiros e operacionais da Raízen. - Fonte: Prospecto preliminar/CVM.

O que será feito com o valor?

Já que a oferta será primária, todo o dinheiro levantado será destinado ao caixa da Raízen, que pretende usar os recursos para fazer o seguinte:

  • Construção de novas plantas para expandir a produção de produtos renováveis e a capacidade de comercialização da companhia (previsão de 80% dos recursos captados);
  • Investimentos em eficiência e produtividade nos parques de Bioenergia (5%);
  • Investimentos em infraestrutura de armazenagem e logística para suportar o crescimento de volume comercializado de renováveis e açúcar (15%).

Entrar ou não?

Então, apresentadas todas essas informações sobre a companhia e sua oferta pública, vamos ao que todos mais querem saber, não é mesmo? Será que vale a pena entrar no IPO da Raízen?

De acordo com a casa de analises Levante, sim, vale a pena. Em relatório divulgado recentemente, a analista aponta que:

"Nossa recomendação é ENTRAR na oferta pública inicial (Initial Public Offering - IPO) da Raízen, com preço limite de R$ 9,60 no patamar mais alto da faixa indicativa de preço e lock-up, entendendo que qualquer preço dentro da faixa apresenta uma boa oportunidade de investimento e embutindo um potencial de valorização de 38,4% em relação ao preço médio da oferta (R$ 8,50)."

A Levante destacou ainda que a Raízen é uma companhia que já se encontra em posição de destaque nos mercados em que atua, mas tem aprimorado suas operações principalmente por meio da introdução de novas tecnologias no processo produtivo e na diversificação de produtos e subprodutos, além de conseguir manter-se competitiva em setores mais consolidados, como o de combustíveis.

Além disso, o fato de que 80% dos recursos serão destinados a produtos renováveis, também é visto como positivo.

A Levante, resumiu em três grandes pontos a sua tese de investimentos para a entrada no IPO da Raízen:

  1. Grande potencial de expansão do setor sucroalcooleiro nos próximos anos, devido à constante presença de inovações e novas tecnologias no processo produtivo e diversificação de portfólio de subprodutos. Esse crescimento deve ser impulsionado pela recente aquisição da Biosev, trazendo saltos de receita e Ebitda já em 2021;
  2. Fortes vantagens competitivas da empresa, como ativos intangíveis - tanto em termos de marca, com a Shell e a Cosan sendo duas companhias globalmente reconhecidas, quanto em termos de infraestrutura ampla de terminais logísticos, bio parques e estações de serviços - e vantagens de custo, além de o mercado brasileiro de combustíveis ter uma alta barreira de entrada;
  3. Forte presença de métricas ESG (Environmental, Social and Governance) na companhia, com altos índices de captura de carbono no país.

Destacamos aqui alguns pontos, que trazem informações relevantes sobre a empresa mas não tão divulgados.

Vantagens competitivas

  • Empresa integrada e verticalizada: Atua desde a produção da matéria-prima até a venda do produto final, o que permite maior inteligência na comercialização e possibilita a precificação de seus produtos acima da concorrência. Esse formato cria uma grande barreira para novos entrantes.
  • Ativos não-replicáveis: A empresa possui uma enorme rede de distribuição que inclui ativos no Brasil e na Argentina, incluindo terminais terrestres e portuários, além de possuir seus parques de bioenergia próximos aos mercados consumidores, o que impossibilita a entrada de concorrentes.
  • Grande escala: Além da produção própria, a companhia compra e vende produtos de terceiros, o que aumenta seus volumes negociados e possibilita negociar melhores preços e obter margens melhores que a concorrência. A Raízen é a maior produtora mundial de etanol de cana-de-açúcar, maior exportadora mundial de açúcar, maior produtora de biomassa de cana-de-açúcar do mundo, maior geradora de energia elétrica a partir de biomassa no Brasil, possui a maior planta de etanol de segunda geração, uma das maiores plantas de biogás do mundo, opera uma das maiores área agrícolas do mundo e a segunda maior rede de distribuição de combustíveis no Brasil e Argentina.
  • Investimento em tecnologia: Foi a primeira empresa a conseguir produzir o etanol de segunda geração em escala comercial, possuindo a maior planta de etanol de segunda geração do mundo. Uso intensivo de tecnologia desde a produção no campo, utilizando drones e algoritmos para mapear e definir como e quando realizar o plantio e a colheita. Possui uma Central de Inteligência da Agricultura que possibilita um custo 35% menor que a média da indústria, monitorando e gerenciando mais de 3 milhões de acres de terra. Possui o aplicativo Shell Box, utilizado por mais de 800 mil usuários, que contribui com a fidelização dos clientes e aumenta o ticket médio.
  • Grandes empresas controladoras: A Raízen é controlada pela Cosan e pela Shell, duas empresas globais que são referências em seus setores.
  • ESG: Empresa referência na esfera ESG, principalmente na parte ambiental, sendo uma das empresas que mais captura carbono do país.
  • Empresa sólida com baixa alavancagem: Possui dívida líquida/ EBITDA Ajustado de 2,1x com a maior parte da dívida no longo prazo.

Logística com menor custo

A Levante também apontou que uma das principais características desse setor é a complexidade logística, pois as empresas devem transportar o combustível dos terminais primários até os secundários e, então, até seus postos de serviço, e quanto menor a distância percorrida, menor os custos para a empresa. E nesse aspecto, a Raízen é o destaque do setor. Veja:

Créditos: Reprodução/Levante
Créditos: Reprodução/Levante
Créditos: Reprodução/Levante
Créditos: Reprodução/Levante

Essa menor distância frente a seus concorrentes só é possível graças à grande base de ativos da companhia, que possui 74 terminais terrestres e 11 terminais portuários distribuídos estrategicamente no Brasil e na Argentina.

Além disso, a venda da participação da Petrobras na BR Distribuidora foi posítiva para a Raízen, pois a empresa deixou de ser uma companhia integrada, isto é, produtora e distribuidora de seus produtos, ao contrário da Raízen, empresa integrada que se destaca como a maior produtora mundial de etanol de cana-de-açúcar, com uma capacidade de processamento de 105 milhões de toneladas de cana, incluindo a Biosev, comparável a países inteiros.

Por tudo isso, a recomendação da Levante é, como já dito, para a participação no IPO da Raízen. Veja o relatório completo da analista.

Empiricus também recomenda

Outro relatório divulgado pela Empíricus também recomenda a entrada no IPO. A "Raízen é uma operação espetacular tocada por pessoas absolutamente brilhantes", destacou o analista Felipe Miranda.

Na opinião dele, a questão da produção de etanol e a sustentabilidade são pautas que atraem muitos investidores de fora, especialmente da Europa e não deverá ser diferente no caso da Raízen.

Além disso, a Empíricus também chama a atenção para as ações da Cosan. "A Raízen pode gerar muita atenção para as ações de Cosan e mostrar primeiro que as ações de Cosan estão muito baratas considerando a soma das partes. Ou seja, tudo o que a Cosan tem. E também preparar todo o crescimento da própria Raízen que vai se traduzir no crescimento da Cosan e destravar bastante valor ali", destacou no relatório.

Diante desse cenário, o analista Felipe da Empíricus acredita que as ações da Raízen devem ter um crescimento de até 40% num futuro não muito distante.

Suno não recomenda

Por outro lado, a casa de análises Suno não vê esse IPO como uma oportunidade tão boa assim. Primeiro por causa do preço médio definido para as ações a empresa. A casa de análises acredita que o Valuation está pouco atrativo.

Por meio de cálculos utilizando como base o fluxo de caixa da companhia, a Suno chegou à conlcusão de que o valor justo por ação da Raízen seria de R$ 7,48. Considerando que o piso da faixa é de R$ 7,40, com preço médio da faixa de R$ 8,50, "não vemos margem de segurança para recomendar a adesão ao IPO", disse a analista.

A Suno também destaca que a empresa ofertará, inicialmente, 810.811.000 novas
ações preferenciais. Ou seja, os papéis não dão direito a voto. Outra coisa a se considerar é que serão ofertadas apenas 10% das ações da empresa, o que é considerado uma quantidade relativamente baixa. As empresas que compõem a join venture (Shell e Cosan) ficarão com cerca de 45% da empresa cada uma.

Além disso, a analista lembra que independente das práticas sustentáveis, a Raízen é uma produtora de commodities e como tal está exposta às variações dos preços dos produtos. Um longo período de preços de mercadorias depreciados pode afetar os papéis da empresa.

A privatização das refinarias também pode aumentar a competição no segmento de Distribuição de Combustíveis. À medida que o processo de privatização das refinarias da Petrobras, por exeplo, avance, players privados vão entrar no setor.

Por fim, vale destacar um questionamento feito por várias pessoas na internet nos últimos dias: a escolha do segmento de listagem da Raízen, no Nível 2. Seria de se esperar que uma empresa que tem um olhar tão voltado para o ESG optasse por fazer o IPO no Novo Mercado que é o segmento de listagem mais trasparente, considerado o mais alto nível de governança comparativa. No entanto, não foi isso que aconteceu e isso deixa muito em alerta.

Interessante, não é mesmo? Então, você pretende entrar no IPO da Raízen ou não?