O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) acabou de encerrar a sexta reunião de 2021 e cumpriu com aquilo que já era esperado: a Taxa Selic - que é a taxa básica de juros do Brasil - foi elevada em mais 1,50%, ficando em 7,75% ano ano. Esse foi o sexto aumento consecutivo dela, que iniciou 2021 em 2%.

Esse foi o primeiro aumento de 1,50%, depois de uma série de três aumentos no patamar de 0,75% e de outras duas elevações de 1%. O próprio Copom já havia previsto novas elevações, porém, até recentemente acreditava-se que poderia ser de mais 1%. Da semana passada para cá, porém, novos acontecimentos político-econômicos fizeram com que as projeções aumentassem, o que, de fato, se confirmou.

Esses aumentos vêm acontecendo numa tentativa de controlar a inflação que já soma uma alta de 10,25% nos últimos 12 meses. "O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista", disse o órgão.

Além disso, o mercado financeiro também já esperava por esse aumento, principalmente tendo em vista que a projeção da Selic para 2021 nesse momento está em 8,25% ao ano. Ou seja, o mercado não apenas previa esse aumento como acredita que na próxima reunião que acontece ainda em dezembro de 2021, novos aumentos ainda sejam determinados.

Aliás, o próprio Copom também acredita que esses aumentos devem mesmo acontecer pois anunciou que "para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude". A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 7 e 8 de dezembro. Depois só nos dias 1º e 2 de fevereiro de 2022.

Veja na íntegra a nota do BC divulgada nessa quarta-feira, 27:

Em sua 242ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 7,75% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, o ambiente tem se tornado menos favorável e a reação dos bancos centrais frente à maior persistência da inflação deve levar a um cenário mais desafiador para economias emergentes;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores divulgados desde a última reunião mostram uma evolução ligeiramente abaixo da esperada;
  • A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços veio acima do esperado, liderada pelos componentes mais voláteis, mas observam-se também pressões adicionais nos itens associados à inflação subjacente;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 9,0%, 4,4% e 3,3%, respectivamente; e
  • No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,60*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 9,5% para 2021, 4,1% para 2022 e 3,1% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,75% a.a. neste ano e para 9,75% a.a. durante 2022, terminando o ano em 9,50%, e reduz-se para 7,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 17,1% para 2021, 5,2% para 2022 e 5,1% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias "escassez hídrica" em dezembro de 2021 e "vermelha patamar 2" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 7,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

O que é a Selic?

Abreviação de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, a Selic é um sistema do Banco Central. Ele é responsavel por registrar todas as operações relacionadas aos títulos escriturais do Tesouro Nacional. O que acontece é que boa parte destes ativos é comprada pelos grandes bancos. Por lei, eles são obrigados a direcionar uma porcentagem de seus depósitos a uma conta do BC.

O volume de operações bancárias em um único dia é muito grande. Ao somar o montante de todas as instituições, o total é ainda maior. Então, o BC impõe que os bancos devem fechar o dia com o caixa equilibrado. O objetivo é evitar excesso de dinheiro em circulação, e, consequentemente controlar a inflação.

Para isso, as instituições fazem empréstimos entre elas. Há uma taxa de juros e também a emissão de títulos de curtíssimo prazo (1 dia). Assim, é feita uma média ponderada e ajustada que é divulgada diariamente. Ela é a taxa Selic Overnight. No ano, ela é a taxa Selic anual.

Por isso tudo, a Selic é a taxa básica de juros da economia e o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação. A Selic influencia todas as taxas de juros do país.

Como a Selic controla a inflação?

A resposta é mais simples do que pode parecer num primeiro momento: quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. O lado ruim é que desse modo as taxas mais altas podem dificultar a recuperação da economia.

Por outro lado, quando o Copom reduz a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. Isso aconteceu ao longo de 2020 quando a Selic chegou a ser definida em 2% ao ano, patamar mais baixo de sua história desde o início da série histórica, em 1996.

Inflação já passa dos 10% em 12 meses

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro subiu 1,16%, 0,29 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de 0,87% registrada em agosto. Essa foi a maior variação para um mês de setembro desde 1994, quando o índice foi de 1,53%.

A situação vem preocupando cada vez mais pois além do aumento do mês, ao longo de 2021 o IPCA já acumula uma alta de 6,90% e, nos últimos 12 meses, de 10,25%, acima dos 9,68% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em setembro de 2020, a variação mensal havia sido de 0,64%.

IPCA-15

Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a prévia da inflação oficial, ficou em 1,20% em outubro, 0,06 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de setembro (1,14%). Trata-se da maior variação para um mês de outubro desde 1995 (1,34%), e a maior variação mensal desde fevereiro de 2016 (1,42%).

No ano, o IPCA-15 acumula alta de 8,30% e, em 12 meses, de 10,34%, acima dos 10,05% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em outubro de 2020, a taxa foi de 0,94%. Os dados foram divulgados na manhã dessa terça-feira, 26 de outubro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Projeção

E a previsão do mercado financeiro para o IPCA, segundo o Boletim Focus publicado nessa segunda-feira, 25 de outubro, pelo Banco Central, já está em 8,96% ao ano. Ainda de acordo com o Boletim Focus, para 2022, a estimativa é de que o IPCA fique em 4,40% ao ano. Antes a previsão era de 4,18% e de 4,12% (nas duas últimas semanas). Para 2023 a previsão foi de 3,25% para 3,27% e para 2024 de 3% para 3,02%.

Como esse novo aumento pode afetar seu bolso?

A taxa de juros Selic é uma referência para todos demais juros da economia brasileira e por isso, seus reajustes podem oferecer impactos para todos nós. Há duas principais formas de nos impactar. São elas:

  • Empréstimos e financiamentos: com a Selic mais alta, eles ficam mais caros;
  • Aplicações financeiras: vários são os investimentos que têm relação com a Selic, direta ou indiretamente.

Em relação aos empréstimos e financiamentos, é importante estar atento porque as taxas de juros possivelmente serão reajustadas na mesma medida a partir de agora, o que vai encarecer esse tipo de serviço.

Já em relação aos investimentos, é interessante que voltemos o nosso olhar com um pouco mais de atenção, porque são várias formas de impacto. Veja.

Como a Selic impacta nas aplicações financeiras?

Uma das aplicações financeiras impactadas pela alta da Selic é o Tesouro Nacional. Entre os títulos emitidos por ele, há vários que levam em consideração a Selic e isso pode ser até bom para os investidores que passarão a ter um rendimento um pouquinho maior a partir de agora.

Além disso, a própria poupança é afetada já que ela oferece um rendimento de 70% da Selic. Portanto, se antes a Selic estava em 5,25% ao ano e a poupança rendia 3,675% ao ano, agora com a Selic a 6,25%, a poupança passa a oferecer um retorno de 4,375% ao ano. Isso também torna a poupança um pouco mais interessante ainda que esse rendimento não cubra a inflação do período.

Também é interessante destacar que mesmo as ações podem ser impactadas pela Selic, ainda que indiretamente, para o bem ou para o mal. Isso porque alguns setores se beneficiam de uma Selic mais alta enquanto outros são prejudicados.

Entre os que se beneficiam estão dos bancos, por exemplo, porque o aumento da taxa de juros pode aumentar o "spread", com crescimento direto na margem financeira bruta dessas instituições financeiras.

Por outro lado, o setor de construção civil, por exemplo, tende a sofrer um impacto negativo, já que o financiamento imobiliário se torna mais caro e as pessoas, portanto, tendem a procurar menos por imóveis.

E, por fim, é preciso considerar também que o rendimento de alguns tipos de ativos pode jogar contra eles com uma Selic mais alta. Com uma Taxa Selic mais baixa eles até poderiam ser boas opções de investimentos, mas com a Selic mais alta eles perdem um pouco da competitividade e por isso são impactados negativamente por essa taxa.

O Comitê de Política Monetária (Copom)

O Comitê de Política Monetária (Copom) é um órgão do Banco Central, formado pelo seu Presidente e oito diretores, e ele se reúne a cada 45 dias para definir, entre outras coisas, a taxa básica de juros da economia - a Selic.

As reuniões normalmente ocorrem em dois dias seguidos e o calendário de reuniões de um determinado ano é divulgado até o mês de junho do ano anterior.

A reunião do Copom segue um processo que procura embasar da melhor forma possível a sua decisão. Os membros do Copom assistem a apresentações técnicas do corpo funcional do BC, que tratam da evolução e perspectivas das economias brasileira e mundial, das condições de liquidez e do comportamento dos mercados.

Assim, o Comitê utiliza um amplo conjunto de informações para embasar sua decisão. Depois, a reunião é reservada para a discussão da decisão entre os membros. A decisão é tomada com base na avaliação do cenário macroeconômico e os principais riscos a ele associados. Todos os membros do Copom presentes na reunião votam e seus votos são divulgados. As decisões do Copom são tomadas visando com que a inflação medida pelo IPCA situe-se em linha com a meta definida pelo CMN.

A decisão do Copom é divulgada no mesmo dia da decisão por meio de comunicado na internet. As atas das reuniões do Copom são publicadas no prazo de até seis dias úteis após a data da realização das reuniões. Normalmente, as reuniões do Copom ocorrem em terças e quartas-feiras e a ata é divulgada na terça-feira da semana seguinte, às 8 horas.

Ata da 242ª reunião será divulgada em dia e horário diferentes

Depois que a reunião do Copom é finalizada uma nota como essa acima é divulgada e na sequência, alguns dias depois, sai a ata completa da reunião. Em geral, essas atas são publicadas no prazo de até quatro dias úteis após a data da realização das reuniões. Normalmente, as reuniões do Copom ocorrem em terças e quartas-feiras e a ata é divulgada na terça-feira da semana seguinte, às 8h. Dessa vez, porém, será um pouco diferente.

Segundo nota divulgada pelo Banco Central na manhã dessa quarta-feira, dia 27, a ata da 242ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), será publicada excepcionalmente às 7 horas do dia 3 de novembro (quarta-feira). "Dessa forma, a ata será publicada antes da participação do Presidente em evento da COP-26, que constará na agenda pública, e antes da abertura dos mercados", disse o BC.

"A divulgação das próximas atas retornará ao padrão de publicação de 8 horas da primeira terça-feira após a reunião", informou ainda.